A perseguição cristã na Nigéria e a realidade profética do Novo Testamento
- Edição JA
- 13 de out.
- 7 min de leitura
JORNAL DE APOIO | ESPECIAL INTERNACIONAL | OUTUBRO 2025
“Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.”
(João 15.18)
A perseguição aos cristãos é um dos temas centrais das Escrituras e uma realidade constante na história da Igreja. Desde o livro de Atos, os seguidores de Cristo enfrentam hostilidade por sua fé e testemunho do evangelho. No Novo Testamento, os apóstolos repetidamente alertam que, durante a dispensação da Igreja, o povo de Deus sofreria perseguições por causa de sua fidelidade à verdade (2Tm 3.12; Mt 10.22; 1Pe 4.12-14).

Neste momento, no século XXI, a Nigéria, país da África Ocidental, se tornou um dos cenários mais dramáticos dessa profecia.
Um país dividido entre o poder e a fé
A Nigéria é o país mais populoso da África, com mais de 210 milhões de habitantes, e uma das nações mais ricas em petróleo do planeta. Entretanto, essa riqueza se transformou em fonte de desigualdade, corrupção e violência.A estrutura política nigeriana é uma república federal presidencialista, inspirada no modelo norte-americano, com eleições a cada quatro anos. O atual presidente, Bola Tinubu, chegou ao poder em 2023 e representa uma linha neoliberal de direita, fortemente alinhada aos interesses das megacorporações estrangeiras que exploram o petróleo local, como Chevron, ExxonMobil e TotalEnergies.

ABUJA, CAPITAL DA NIGÉRIA - IMAGEM DE IA
Embora o Estado possua a Nigerian National Petroleum Corporation (NNPC), os lucros provenientes
da exploração não alcançam o povo. A riqueza do subsolo é drenada para as mãos de uma minoria política e empresarial de direita que se beneficia da influência imperialista ocidental.
Enquanto as petroleiras acumulam bilhões, metade da população vive sem energia elétrica estável, e milhões passam fome. A insatisfação social cresce, e o governo responde com repressão e violência, sufocando manifestações populares com brutalidade.
A força da fé em meio à tensão religiosa

Nesse ambiente de instabilidade econômica e corrupção política, a Nigéria é também palco de uma das mais complexas divisões religiosas do mundo.O país abriga a sexta maior população cristã do planeta, com cerca de 87 milhões de fiéis, e a quinta maior população muçulmana, com cerca de 90 milhões. O norte é majoritariamente islâmico; o sul, predominantemente cristão.Esse equilíbrio instável seria, em tese, garantido por um acordo político informal: o poder deveria alternar-se entre líderes cristãos do sul e muçulmanos do norte. Contudo, a realidade vai muito além de uma simples divisão de poder. Ela reflete um conflito espiritual e ideológico profundo.
O radicalismo do Boko Haram: O inimigo do Evangelho
Desde 2009, o grupo religioso extremista Boko Haram espalha o terror na Nigéria. Com uma ideologia salafista jihadista - derivada do wahabismo sunita, o grupo busca impor a Sharia (lei islâmica) em todo o território nigeriano visando eliminar qualquer influência ocidental, incluindo o cristianismo.
Seu nome, “Boko Haram”, significa literalmente “a educação ocidental é pecado”. Essa tradução sintetiza o ódio do grupo não apenas à cultura ocidental, mas também ao Evangelho, que eles consideram um produto do Ocidente.
Os ataques do Boko Haram têm como alvos principais igrejas evangélicas, católicas e escolas cristãs. Milhares de cristãos foram mortos, aldeias inteiras queimadas, e mulheres sequestradas e vendidas como escravas.
O grupo não distingue entre denominações - para os jihadistas, todo seguidor de Cristo é inimigo. Apesar da brutalidade e das denúncias internacionais, o governo direitista nigeriano demonstra incapacidade, e há fortes suspeitas de cumplicidade de membros da elite política no financiamento indireto do Boko Haram.
A perseguição não é política - É espiritual

VISTA AÉREA DA CAPITAL, ABUJA - IMAGEM IA
Embora o contexto da Nigéria envolva componentes econômicos e geopolíticos, a perseguição aos cristãos não é consequência de ideologias políticas de direita ou esquerda. Trata-se de uma guerra espiritual, travada sob a bandeira da religião, e enraizada no ódio às verdades do Evangelho.
O Boko Haram combate a dominação econômica das multinacionais e os cristão católicos e evangélicos porque os associam a tudo que é ocidental. Na prática, eles combatem a propagação do Evangelho Cristo. Sua agenda é teocrática e antagônica ao cristianismo, buscando erradicar da Nigéria a presença dos cristão, vistos como obstáculo à islamização total do país.
A profecia cumprida: O sofrimento da Igreja
O apóstolo Paulo escreveu a Timóteo: “Todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus padecerão perseguições.” (2Tm 3.12). Na Nigéria, essa palavra se cumpre diariamente. Homens e mulheres são mortos apenas por professarem fé em Jesus. Crianças são impedidas de estudar por serem cristãs. Igrejas são destruídas, e missionários assassinados.
Profeticamente, durante a dispensação da Igreja, o mundo não acolheria o Evangelho, mas o resistiria. As perseguições não cessarão durante essa dispensação da Graça. E, paradoxalmente, quanto mais o mundo se afasta da verdade, mais o testemunho cristão brilha nas trevas.
O sangue dos mártires é semente da Igreja
Na perspectiva bíblica, a liberdade de consciência e de fé é um valor inegociável defendido sempre defendido pelos batistas. Contudo, os crentes nigerianos vivem uma fé que não se mede pela liberdade, mas pela fidelidade. Mesmo sob ameaça, eles continuam se reunindo em casas, campos e ruínas para adorar ao Senhor. Assim como nos dias apostólicos, o sofrimento cria resiliência e se torna o combustível da esperança.

A história da Igreja sempre mostrou que a perseguição não destrói o Evangelho - ela o fortalece. O sangue dos mártires, desde o apedrejamento de Estevão, é a semente que faz florescer o testemunho cristão em solo árido. E a Nigéria, hoje, é esse solo onde a fé é provada como ouro no fogo.
Esperança na promessa de Cristo
Jesus nunca prometeu conforto a seus discípulos, mas garantiu Sua presença: “No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (Jo 16.33). A Nigéria é o retrato doloroso de um mundo que rejeita a luz. Mas também é o cenário onde a vitória de Cristo se manifesta, quando crentes simples e anônimos continuam pregando o Evangelho sob a mira de fuzis e de armas frias. A Igreja de Cristo jamais será destruída - nem pelas armas, nem pelas ideologias, nem pela corrupção. Ela avança, sustentada pela promessa de seu Senhor: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16.18)
Conclusão
A perseguição na Nigéria é um lembrete para toda a Igreja de que vivemos em tempos proféticos. O sistema do mundo, “que jaz no maligno” (1 Jo 5.19) - dominado por interesses econômicos, políticos e espirituais contrários ao Evangelho da Graça - continua odiando a verdade.
Mas enquanto houver um cristão de joelhos, haverá esperança. Enquanto houver alguém disposto a pregar, haverá luz nas trevas. E enquanto Cristo for o Senhor da Igreja, nenhuma força humana ou espiritual poderá silenciar o testemunho do Evangelho.
“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.”
(Romanos 8.18).
Box Informativo
Estatísticas Recentes da Perseguição Cristã na Nigéria
Indicador | Dados recentes |
Mortes de cristãos | Em 2024, cerca de 3.100 cristãos foram mortos na Nigéria por causa de sua fé. C News Live+2Catholic News Agency+2 |
Sequestros de cristãos | Aproximadamente 2.830 cristãos foram sequestrados em 2024. C News Live+2ACI Digital+2 |
Ranking no World Watch List (Open Doors) | Nigéria figura entre os países com nível extremo de perseguição religiosa. Registro Católico Nacional+3Portas Abertas EUA+3ACI Africa+3 |
Mortes como proporção global | No relatório de 2023, dos cristãos mortos por causa da fé no período analisado (~5.621), 5.014 foram na Nigéria - cerca de 89% desse total global. ICIR News+2Open Doors+2 |
Ataques a igrejas, deslocamentos e destruição de propriedades | No estado de Benue, entre janeiro de 2023 e fevereiro de 2024, cerca de 2.600 pessoas, majoritariamente mulheres e crianças, foram mortas em ataques que incluíram ofensivas contra plantações. Também 55 escolas destruídas no mesmo período. Portas Abertas Em junho de 2025, após ataques de extremistas fulani, mais de 200 cristãos assassinados em Benue, e cerca de 9.000 deslocados. Portas Abertas |
Pressão geral sobre cristãos | A discriminação, o medo, o deslocamento, o ataque a igrejas, à propriedade, além de coerção cultural/religiosa, conformam uma realidade de perseguição que afeta milhões. O relatório da Open Doors de 2024/2025 mostra que 1 em cada 7 cristãos no mundo sofre ao menos discriminação ou perseguição de alto nível. RNS+2C News Live+2 |
Aplicação Pastoral para as nossas igrejas no Brasil
1. Apelo à oração intercessora
Que cada igreja local dedique momentos de oração especificamente pelos cristãos na Nigéria - margem pelo governo, pelas vítimas de ataques e deslocamentos, pelos líderes locais que continuam firmes sob pressão.
Que usemos Jó 5.11-16 (“ele livra da opressão os que são oprimidos…”), Mateus 5.44 (orar pelos que nos perseguem) ou 2 Coríntios 1.4 (Deus nos conforta para podermos confortar outros).
2. Sensibilização e educação
Ensinar às igrejas brasileiras sobre o que significa perseguição religiosa: suas formas, causas e impacto prático.
Fazer cultos de comunhão ou dias de jejum em que o tema seja a perseguição dos cristãos - para que não seja algo distante, mas uma realidade palpável.
3. Ações concretas de apoio
Parcerias com organizações confiáveis (como Portas Abertas, Open Doors, missionários locais) que trabalham diretamente com cristãos perseguidos na Nigéria para prover socorro humanitário, apoio psicológico, abrigo, alimentação, reconstrução de igrejas ou escolas destruídas.
Coletas especiais nas igrejas para ajudar deslocados internos, crianças órfãs, mulheres sequestradas liberação e recuperação.
4. Testemunho e missão no Brasil
Que as igrejas brasileiras reflitam: se cristãos ali pagam preço por seguir a Cristo, estamos dispostos a manifestar mais comprometimento, fidelidade, amor sacrificial em nosso próprio contexto?
Estimular missionários, vocacionados, para que considerem apoio direto ou mobilização missionária em regiões da Nigéria ou de influência similar.
5. Advocacia e sensibilização pública
Levar o tema à conscientização da sociedade civil brasileira: quando um cristão é perseguido no exterior, não é apenas um problema “lá”, mas um chamado para que a Igreja global acorde em solidariedade.
Envolver meios de comunicação cristãos, imprensas evangélicas para divulgar histórias reais, humanizar as estatísticas.
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