top of page

A revelação de Deus em meio ao sofrimento

O Salmo 88 é listado entre os salmos de lamentação, porém diferindo de seus pares em um ponto crucial, uma vez que o padrão seguido por tal gênero é de que ao final de sua explanação das dores e sofrimentos pelo qual o salmista transita encontremos uma palavra de gratidão pelo livramento do Senhor, isto não ocorre no Salmo 88. Seu caso específico relata a jornada de um homem que luta com uma enfermidade desde a sua mocidade, possivelmente uma doença degenerativa, talvez a lepra, como nos é revelado no verso 15 “Estou aflito, e prestes tenho estado a morrer desde a minha mocidade; enquanto sofro os teus terrores, estou perturbado”. O que encontramos neste salmo é algo aterrador, porém real, a condição terminal de um ser humano em meio a enfermidade exatamente como encontramos em meio a nossa sociedade moderna. Passam-se os tempos e nossas mazelas continuam as mesmas, assim como a palavra de Deus, cujo testemunho permanece para sempre.


Encontramos neste salmo um homem de oração, o único alivio que resta a seu sofrimento “SENHOR Deus da minha salvação, diante de ti tenho clamado de dia e de noite”. Notemos que em momento algum a falta de oração é a razão de sua condição, mas sim a aparente inexistência de uma resposta da parte de Deus ao clamor do homem moribundo, que simplesmente deseja ser ouvido pelo Senhor “Chegue a minha oração perante a tua face, inclina os teus ouvidos ao meu clamor”. A condição do homem é terminal “Porque a minha está cheia de angústia, e a minha vida se aproxima da sepultura”, sua alma está sobrecarregada pelo sofrimento, que não lhe dão descanso. Sua morte está próxima e mesmo as pessoas ao seu redor já não nutrem esperanças quanto a ele “Estou contado com aqueles que descem ao abismo; estou como homem sem forças. Livre entre os mortos, como os feridos de morte que jazem na sepultura, dos quais te não lembras mais, e estão cortados da tua mão”. Sua condição havia se agravado de tal modo que ele já comtempla sua própria sepultura, onde será definitivamente esquecido, “Puseste-me no abismo mais profundo, em trevas e nas profundezas”. Suas palavras revelam que ele considera seu sofrimento como um castigo da parte de Deus, como que este o açoitasse sem trégua “Sobre mim pesa o teu furor; tu me afligiste com todas as tuas ondas”. Seu sofrimento é intensificado pela percepção que não somente Deus o abandonou, mas que também seus amigos e companheiros o deixaram em meio a sua angústia, prendendo-o como um cativo solitário escravizado pela dor “Alongaste de mim os meus conhecidos, puseste-me em extrema abominação para com eles. Estou fechado, e não posso sair”.


A segunda porção deste salmo é repleta de questionamentos e mesmo diante deles o salmista mantém sua convicção quanto ao seu dever de orar “A minha vista desmaia por causa da aflição. Senhor, tenho clamado a ti todo o dia, tenho estendido para ti as minhas mãos”. O sofrimento possui o poder de nos fazer questionar até mesmo a bondade e cuidado de Deus para conosco, e isto ocorre com o homem do Salmo 88, que questiona ao Senhor se haverá algum proveito em dar finalmente ouvidos a sua oração quando ele já estiver entre os mortos “Mostrarás, tu, maravilhas aos mortos, ou os mortos se levantarão e te louvarão?”, ou quando seu corpo já estiver na sepultura “Será anunciada a tua benignidade na sepultura, ou a tua fidelidade na perdição?”. O salmista questiona quanto ao valor de Deus voltar-se para ele quando todos já tiverem se esquecido dele “Saber-se-ão as tuas maravilhas nas trevas, e a tua justiça na terra do esquecimento?”. Estes questionamentos acompanham o agravamento da condição deste homem, que mesmo assim não abandona sua convicção quanto ao valor da oração “Eu, porém, Senhor, tenho clamado a ti, e de madrugada te esperará a minha oração”. O que ele é incapaz de entender é a razão pela qual Deus parece não responder seu clamor, como que questionando a Deus o que ele teria cometido de tão grave para ser tratado assim “Senhor, por que rejeitas a minha alma? Por que escondes de mim a tua face?”. Sua enfermidade o acompanhara por quase toda sua vida, levando-o a considerar que Deus nunca o favoreceu nem intercedeu em seu favor “Estou aflito, e prestes tenho estado a morrer desde a minha mocidade; enquanto sofro os teus terrores, estou perturbado”. Está triste e dolorosa condição o leva a concluir que o próprio Deus é o causador de seu sofrimento “A tua ardente indignação sobre mim vai passando; os teus terrores me têm retalhado”, de forma que aparentemente nada mais lhe resta a não ser esperar pelo fim “Eles me rodeiam todo o dia como água; eles juntos me sitiam. Desviaste para longe de mim amigos e companheiros, e os meus conhecidos estão em trevas”.


O triste relato do Salmo 88 nos leva a um sério questionamento em nossa fé. O fato de o salmista ter morrido sem que aparentemente Deus tenha respondido suas orações significa que Deus tenha falhado para com ele? Uma infinidade de pessoas enfrenta neste momento uma condição semelhante, seja pela enfermidade, seja por problemas de toda ordem. Elas oram, clamam a Deus, vivem uma vida correta e não encontram alívio as suas dificuldades, vivendo seus últimos dias em grande angústia. Como a palavra de Deus pode ajudar pessoas nesta condição? Como nós cristãos podemos ajudar pessoas que passam por este tipo de experiência? A resposta é que devemos demonstrar a elas como a Bíblia concede esperança e alívio a alma que sofre ao faze-las tirar os olhos de si mesmas e coloca-los sobre a pessoa de Deus.


O apóstolo Paulo nos concede grande ajuda nesta questão ao escrever aos coríntios quanto aos sofrimentos que eles também enfrentavam, o que nos será de grande ajuda ao aplicarmos os mesmos princípios a vida daqueles que sofrem “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (I Coríntios 10.13). Primeiramente, o apóstolo Paulo nos faz perceber que todas as circunstâncias que nos ocorrem estão dentro da experiência humana, como bem nos lembra o sábio “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada de novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós” (Eclesiastes 1.9,10). Mesmo que difiram as pessoas, o lugar e o tempo o âmago é o mesmo, causado pela mesma questão, o pecado. Ao permitir que enfermidades e toda sorte de problemas ocorram Deus está deixando que a vida siga seu curso, uma vez que todas as coisas estão dentro desta esfera humana corrompida pelo pecado. Tal verdade deve abrir nossos olhos a fim de que reconheçamos que a Bíblia está certa quanto a nossa real condição. Paulo, porém, não escreveu isto a fim de nos desanimar, por isso acrescenta que “fiel é Deus”, nos levando a depositar nossa confiança no caráter santo e amoroso de nosso Pai celestial, requisito essencial a fim de entendermos aquilo que o próprio apóstolo Paulo nos revelou na epístola aos romanos “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8.28). Como, pois, Deus demonstra sua fidelidade em meio a nosso sofrimento? Não permitindo que sejamos tentados acima do que podemos suportar, controlando a intensidade de nossas dores a fim de adequá-las a nossa capacidade, como bem o salmista reconheceu “Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Salmo 103.14). A fidelidade de Deus é também revelada no fato que junto a nossas provações nos é providenciado o livramento, como bem nos ensina o apóstolo “antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”. É bom que os salvos entendam que diante das duras provas vividas por eles Deus poderá enviar o livramento, assim como haverá provações onde vamos receber forças para glorifica-lo até o fim de nossa vida terrena. De uma forma ou de outra Deus jamais desamparará seus filhos, como bem nos ensina o salmista “Porque o Senhor ama o juízo e não desampara os seus santos; eles são preservados para sempre” (Salmos 37.28).


Finalmente, como esta verdade pode ser aplicada ao homem sofredor do Salmo 88? Primeiramente, devemos reconhecer que a condição dele se repete milhares e milhares de vezes a cada ano, pertencendo a comum experiência humana debaixo do pecado. Deus não o estava castigando, mas simplesmente permitindo que o drama da existência humana mais uma vez se revela-se, confirmando a veracidade de sua palavra. Ao permitir tal sofrimento Deus buscou o bem deste homem? Sim! Possivelmente se não fosse esta enfermidade ele jamais se voltaria a Deus. Isto significa que Deus se preocupa mais com nosso bem-estar eterno do que com nosso conforto nesta vida passageira. Aquele homem resistiu a enfermidade por muitos anos sem ser tentado a tirar sua própria vida, o que ocorreria com outras pessoas que passassem por aquilo, demonstrando que seu sofrimento foi permitido dentro da esfera das forças que ele possuía para suportar. Deus cumpriu sua promessa enviando o escape prometido? Sim! Percebemos que em momento algum o homem sofredor do salmo 88 deixou de orar. Quem lhe deu forças para orar em meio a tamanho sofrimento? Deixemos que a Bíblia nos responda “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26). Aparentemente parecia que Deus não estava agindo, porém, Ele estava trabalhando o tempo todo, como bem nos ensina o profeta Isaías “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera” (Isaías 64.4).


O Senhor está ao lado dos salvos em meio ao sofrimento.


Fabiano F. Almeida

Pastor no Templo Batista Maranata em Goiânia GO

Ouça este sermão na página do Templo Batista Maranata – Goiânia no YouTube

Podcast Teologia pra Gente








Comentarios


bottom of page