O fim do ano é tempo de 'balanço': verificamos nossas metas elencadas no início do ano, comparando com aquilo que realizamos e então constatamos aonde chegamos. Pensando sobre objetivos alcançados, fui mais longe... Comecei a pensar "puxa, nessa correria do dia a dia será que tenho negligenciado o mais importante?"
Como mulheres nos vemos muitas vezes 'no automático'; trabalho, casa, filhos, marido, o ministério. Comecei a pensar em Salomão o grande e sábio rei de Israel e sobre o que ele me ensina a respeito daquilo que, em meio a correria, aos compromissos, vai resultar de significativo - ou não - ao final.
À luz do texto bíblico de I Reis 3.1-15, quero compartilhar sobre legados. Legado segundo o dicionário de língua portuguesa nada mais é do que "deixar algo para outrem em testamento; herança".
Neste momento da história de Israel a monarquia era incipiente; o rei Davi tinha sido o segundo rei da nação e por meio de unção profética. Ainda não havia um método de sucessão em Israel; o rei Salomão vai inaugurar, por determinação divina, a coroa hereditária. Através desse homem, o rei mais próspero que já viveu, quero propor uma reflexão sobre a herança que temos construído e vamos deixar quando não estivermos mais aqui.
1° Legado: Aquele que recebemos. O rei Davi construiu um grande patrimônio para deixar ao seu sucessor; não apenas um patrimônio material, mas um legado de intimidade e dependência de Deus. Houve um tempo em que ele desejou construir 'casa' ao seu Deus e foi-lhe vedado por ser um homem de sangue.
Davi foi um rei extremamente zeloso: se esforçou para trazer a arca da aliança e colocá-la no tabernáculo; subjugou seus inimigos, travou guerras sem fim com o intuito de cumprir a ordem de Deus de não se misturar com as outras nações. Para evitar que casando-se entre si integrassem seus costumes e crenças ao seio do povo de Deus.
Mas seu zelo lhe custou o desejo profundo de honrar a Deus estabelecendo um lugar majestoso para adoração. O que não o impediu de acumular riquezas sem fim para este propósito. Interessante ressaltar que no momento de maior estabilidade política e espiritual, Davi se permitiu estar ocioso no lugar onde não devia, observando o que não podia que cometeu o pecado com Bate-Seba e posterior homicídio de Urias o heteu.
É então que podemos compreender por que o apóstolo Paulo faz menção dele como 'homem segundo o coração de Deus' (Atos 13.22); depois de descoberto o pecado, se arrepende e aceita as consequências que Deus lhe impõe. E também onde podemos testemunhar a grandeza de Deus ao permitir que, após a morte do filho do adultério, Deus ainda concede um filho dessa união, Salomão, para se assentar no trono de seu pai como sinal da misericórdia e perdão de Deus.
Quão grande legado o rei Salomão recebeu! 1 - um reino vasto e pacificado; 2 - uma nação próspera com uma adoração exclusiva a Deus; 3) uma promessa de sucessão eterna através da linhagem messiânica, mas uma família devastada pelo pecado.
2° Legado: Aquele que construímos.
Às vezes ficamos presas àquilo que recebemos, aprendemos dos nossos pais ou mestres. Entretanto nunca podemos negligenciar ou ignorar a vontade de Deus nas nossas escolhas e projetos.
O rei Salomão recebeu uma base forte e um lembrete do alto preço de se afastar de Deus; de ter uma família dividida, uma desunião que gera motins, traições, mortes.
Chegara sua vez de construir seu caminho. Quão difícil deve ter sido para Salomão olhar tão grandes conquistas de seu pai e começar a escrever a sua própria história; que bom que ele começou bem!!!
Nós versículos 7-13 do texto citado encontramos o jovem rei orando, conversando com Deus, que coração humilde! Essa oração agradou tanto a Deus que Ele concedeu à Salomão até o que não pedira. Para manter o reino que seu pai havia conquistado sem que necessitasse se envolver com guerras, o rei Salomão se utilizou da política de acordos; isso incluiu casar com a filha de Faraó.
O grande sábio rei começou a fazer concessões: se identificou com os costumes do povo cananeu de sacrificar nos altos, embora os sacrifícios fossem realizados à Yahweh no tabernáculo, este se encontrava no alto de Gibeão a montanha mais alta da região. Quase uma associação aos costumes dos povos vizinhos.
As exceções começaram a tomar proporções maiores; casou-se com 700 mulheres e teve 300 concubinas, muitas das quais eram idólatras, filhas de príncipes pagãos desposadas por motivos políticos. Ele que edificara o templo de Deus magnífico e inigualável, construíra por todo reino templos e altares pagãos para suas mulheres. Lemos em I Reis 11.1-8 'que no tempo da sua velhice suas mulheres lhe perverteram o coração para o afastarem de Deus'.
Vale ressaltar que isso não teria acontecido se pouco a pouco durante a sua vida ele não tivesse se permitido pequenas indulgências contrárias às ordenanças de Deus. Apesar de em seu reinado terem sido construídos suntuosos edifícios, podemos concluir que o rei Salomão não teve o mesmo zelo na construção do seu legado.
3° Legado: Aquele que deixamos.
Ficou comum nas redes sociais postarem sobre - expectativa X realidade - é justamente sobre isso que se trata a nossa última reflexão. Temos feito muitos planos, projetamos grandes expectativas sobre nossos filhos, mas será que o que temos realmente demostrado para eles é a nossa fé inabalável em Deus?
Ao conversar com Salomão Deus reforça a necessidade de intimidade com Ele e respeito às suas ordenanças. Vimos que no decurso da sua vida o rei Salomão tropeçou no processo de construção do seu legado. Com toda certeza cumpriu-se a Palavra de Deus e ele se tornou o rei mais sábio e rico que existiu; apesar disso, vemos em I Reis 11.11 e 12 que ele recebeu a profecia de um reino dividido.
Ao assumir o trono, seu filho Roboão não foi receptivo ao conselho dos mais velhos fazendo cumprir o que Deus falara a Salomão. Dez tribos seguiram Jeroboão, um dissidente dos tempos de seu pai, formando o reino do Norte cuja capital se tornaria Samaria; duas tribos, Judá e Benjamin, permaneceram com Salomão e deram origem ao reino do Sul cuja capital permaneceu sendo Jerusalém.
Após sua morte Salomão deixou: 1) uma nação estremecida; 2) um reino oneroso que não se sustentava; 3) um herdeiro arrogante e obstinado. A época dos reinados de Davi e Salomão foi a época mais próspera da história dos israelitas. Aparentemente um legado de sucesso, paz e prosperidade sem fim. Mas não é isso que a Bíblia revela.
É fácil deixar as coisas escaparem pouco a pouco; isso se dá quando deixamos a pureza de lado e aceitamos o que é impuro; o desgaste dos valores começa quase que imperceptível e vai tomando todos os espaços até levar tudo.
Que a construção do legado das nossas vidas possa ecoar para as gerações futuras a integridade e beleza que é a vida para Deus. Que a herança que nossos filhos compartilhem seja a alegria e graça da salvação que há em Jesus Cristo.
O meu desejo é que acima de bens materiais, nossos filhos possam construir sobre uma sólida base de ensinamentos que os guiem para eternidade com Deus. Que hoje possamos refletir e escolher deixar um legado eterno e incorruptível. Que Deus nos abençoe nessa tarefa!!
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Luana S. V. Batista
Casada com Pr. Hudson, pastor da IBC de Dourados/MS
Mãe da Débora (12) e da Marina (06)
Bancária. Formada em Letras pela UEMS.
Básico em Teologia no Seminário Batista Emaús em Cuiabá MT
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