“Estranho que Deus escolheu o judeu, mas mais estranho que aqueles que escolhem o Deus dos judeus, odeiem o judeu” Autor desconhecido.
O que é Antissemitismo?
Cabe lembrar que o termo semita foi criado em 1781, por um filólogo alemão, enquanto definição de um determinado grupo de línguas, entre elas o hebraico e o árabe; daí em 1879, numa campanha contra os judeus, um agitador alemão cunhou o termo “antissemitismo” (apud. BORGER, 2008, p.311).
Segundo o Rabino Mor do Reino Unido Jonathan Sacks[1], antissemitismo é a negação aos judeus do direito de existir coletivamente como judeus com os mesmos direitos que os demais cidadãos. O antissemitismo sempre foi utilizado para expressar a aversão preconceituosa e xenofóbica contra os judeus [espalhados forçadamente pelo mundo].
O que é Antissionismo?
Também, gostaria de relembrar a definição de:Antissionismo,pelo mesmo Rabino Jonathan Sacks:“É comum ouvir críticos mais extremados de Israel alegar que não são antissemitas, apenas antissionistas. O melhor modo de entender o antissemitismo é como um vírus. Para derrotar o sistema imunológico, um vírus tem de passar por mutações. O mesmo se deu com o antissemitismo. Na Idade Média, os judeus eram odiados por sua religião. No século XIX, apareceu o ódio racial. Hoje, não se pode odiar pessoas por sua religião ou por sua raça. Então, os judeus são odiados porque têm um Estado. O que faz do antissionismo a nova face do velho e bem conhecido antissemitismo. Os israelenses sabem lidar com a crítica, mas não podemos lidar com a negação do nosso direito de existir”.
Em termos práticos Isy Birensztajn colocou da seguinte forma: “Aquela ladainha cambaia “sou antissionista, mas não tenho nada contra os judeus”, usada por estes antissemitas enxaguados nos recônditos do armário, jaz exposta à luz do sol e ao ridículo. O sionismo, numa casca de noz, é o movimento criado em prol da volta dos judeus a Sião, sua pátria milenar. Afirmar que “sou contra a política de Israel, mas não tenho nada contra judeus” é o suprassumo da covardia antissemita.”[2]
Portanto, o antigo antissemitismo e novo antissionismo são as duas faces da mesma moeda de intolerância e perseguição ao povo judeu fora ou dentro de sua pátria.
A Origem do Antissemitismo
O primeiro exemplo que temos da prática do antissemitismo, paradoxalmente, encontramos nas Sagradas Escrituras. No livro de Êxodo, em seu capítulo primeiro, que fala da estadia dos filhos de Jacó no Egito, temos a gênesis do antissemitismo na imoral proposta do novo faraó egípcio que consistia em eliminar os meninos hebreus de seu reino, realizando assim uma limpeza étnica no reino das pirâmides: “E o rei do Egito falou às parteiras das hebreias (das quais o nome de uma era Sifrá, e o da outra Puá), 16 E disse: Quando ajudardes a dar à luz às hebreias, e as virdes sobre os assentos, se for filho, matai-o; mas se for filha, então viva” (Êxodo 1.15-16).
As parteiras respeitaram a Deus e não cumpriram o intento maligno do rei do Egito como está registrado em Êxodo 1.17: “As parteiras, porém, temeram a Deus e não fizeram como o rei do Egito lhes dissera, antes conservavam os meninos com vida”, as quais foram preservadas por Deus. Mas os meninos hebreus não tiveram a mesma sorte: “Então ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem lançareis no rio, mas a todas as filhas guardareis com vida” (Êxodo 1.22), assim a fúria antissemita do rei do Egito foi lançada sobre os descendentes homens dos hebreus já escravizados.
O efeito da benção de relação de Deus com Abraão de Gênesis 12 “amaldiçoarei os que te amaldiçoarem” veio através da libertação dos escravos hebreus, por seu líder Moisés – que foi salvo das águas (Êxodo 2), com grandes feitos de Deus por meio de juízo divino – como as dez pragas.
Assim, o êxodo dos hebreus também ficou conhecido como uma migração em decorrência de perseguições políticas, sociais e religiosas aos filhos (semitas) de Abraão, Isaque e Israel.
Antissemitismo na Pérsia
O segundo grande exemplo de antissemitismo encontramos na fascinante história da rainha Ester em Susã a bela capital do império persa. Hamã, o agagita, é o grande vilão, e descendente de Amaleque e Agague. Amaleque foi o primeiro inimigo do general Josué depois da saída do Egito em direção a terra prometida (Êxodo 17.8-16). O primeiro rei de Israel Saul deveria eliminar completamente os descendentes de Amaleque (neto de Esaú), cujo rei era Agague, mas ele desobedeceu a palavra divina (1Samuel 15). Tendo como pano de fundo essa história Hamã procura se vingar elaborando a morte de todos os judeus do grande reino de Assuero.
Encontramos em Hamã os principais sintomas do antissemitismo: primeiro a intolerância à diferença cultural e religiosa – singularidade do povo judeu: “E Hamã disse ao rei Assuero: Existe espalhado e dividido entre os povos em todas as províncias do teu reino um povo, cujas leis são diferentes das leis de todos os povos, e que não cumpre as leis do rei; por isso não convém ao rei deixá-los ficar” (Ester 3:8); e depois ódio, o que leva à solução do antissemita – a exterminação dos judeus: “Se bem parecer ao rei, decrete-se que os matem” (Ester 3:9a).
Infelizmente o antissemitismo ainda é o mais longo e mais profundo ódio da história humana. O pastor norte americano Don Finto fez uma intrigante e profética pergunta em seu livro – O teu povo será o meu povo: “Por que Satanás ainda provoca tanto ódio contra os judeus? ” Ele mesmo responde: “Porque o nosso invisível e poderoso adversário sabe de algo que muitos cristãos ainda não descobriram – as promessas de Deus não serão cumpridas se Satanás for bem-sucedido” (FINTO, 2010, pág. 63).
As Dificuldades dos Antissemitas
“E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem;
Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12.3).
Um dos maiores paradoxos que existe é o antissemitismo. O antissemita abomina o povo judeu, mas se beneficia da sua inteligência e dos inúmeros benefícios que prestou a humanidade.
Sendo assim, vejamos a situação de um pai antissemita que, por infelicidade, tem um filho ameaçado pela paralisia infantil. Como usar a vacina antipólio, descoberta por Albert Sabin, um judeu a quem odeia?
Também o antissemita que tenha sífilis não se pode tratar com Salvarsan, porque este medicamento foi descoberto por outro judeu de nome Erlich. Não poderá sequer submeter-se a um exame para ver se está realmente doente, pois a reação de Wasserman, própria para estas ocasiões, foi descoberta por outro judeu.
Um antissemita que sofra do coração não poderá utilizar-se da Digitalina, pesquisada pelo judeu Ludwig Traube.
Quando tiver dor de dentes, não poderá usar a lidocaína, pois do contrário irá se valer de outro judeu, Salomão Stricher. Quando sentir dor de cabeça deverá fugir ao Pyramidon e à antipirina (Spiro e Eiloge).
Um diabético não poderá recorrer à insulina, em virtude das pesquisas neste terreno terem sido feitas pelo judeu Minkovsky.
Do tifo não poderá ser tratado, porque as honras da descoberta do tratamento pertencem aos judeus Widal e Weill.
Os antissemitas que sofrem de convulsões deverão acabar com elas de outra forma, mas nunca com o uso de cloral hidrato, ideia de Oscar Liebreich, também judeu.
Os médicos antissemitas nunca poderão recomendar as descobertas e aperfeiçoamentos levados a efeito pelos seguintes prêmios Nobel: Volitzer, Barangay, Otto Warburg, Judasson, Bruno Bloch, Uma Oppennhhein, Kronecher, Benediel Fraenkel e muitos outros.
Na música, o antissemita deve tapar os ouvidos, para não ouvir as composições dos judeus, George Guerchwin e Irving Berlin (autor da canção de Natal “Noite Feliz”), executada no mundo inteiro. Não deverá casar-se ao som da marcha nupcial de Mendelsson ou os clássicos de Mahler.
Evitar ir ao cinema, para não assistir artistas judeus célebres, como Edward G. Robinson, Kirk Douglas, Barbra Streisand, Tony Curtis e vários outros artistas.
Enfim, não deveria ter a oportunidade de conhecer e usufruir todos os inventos maravilhosos que surgiram no século 20, frutos da descoberta da teoria da relatividade, por um “maldito judeu”, chamado Albert Einstein, que permitiu à Humanidade entrar na era nuclear.
Quem melhor definiu esta absurda discriminação secular foi Ernesto Sabato, o grande intelectual e escritor argentino, analisando o antissemitismo: “Se Jesus tivesse nascido na Polônia, sua mãe teria sido arrastada pelo chão, puxada pelos cabelos, levando cutiladas, até os vagões de carga que a transportariam aos campos de extermínio”. Todos esses fatos, o antissemita conhece, reconhece e usufrui (Fonte Revista Shalom).
Combatendo o Antissemitismo
Pode um antissemita ser cristão?
Transcrevo a resposta do Dr. Jacob Gartenhaus, fundador do nosso ministério nos EUA: “Um antissemita não é e não pode ser um cristão, pois tem que odiar o fundador do Cristianismo, seus propagadores, as primeiras igrejas, pois todos foram verdadeiros e fiéis judeus, e porque o cristianismo é todo baseado na Bíblia Judaica, um livro que o cristão deve usar como padrão de vida”.
Contudo, muitos ditos cristãos foram antissemitas nas suas perseguições aos judeus ao longo dos séculos de cristianismo institucional, como a Inquisição, os Pogroms e o Nazismo (Holocausto), entre outras atitudes não condizente com o verdadeiro cristianismo.
Nosso desafio é mostrar que essa parte da cristandade não representa na totalidade a Igreja de Cristo, mas sim uma parte que se utilizou do expediente religioso para seus próprios interesses escusos, perversos de ganho financeiro e político. E que o verdadeiro cristianismo não se porta com ódio e sim com o amor ensinado por nosso Senhor Jesus Cristo para com o homem (Jo.3:16).
Nas palavras de Paulo, o apóstolo aos gentios, a igreja deve compartilhar bens materiais com Israel “Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles [judeus]. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais” (Romanos 15:27), ou seja, no contexto de ajuda humanitária a igreja tem o dever moral de orientar os seus membros a combater o antissemitismo (se tratando do povo judeu nas nações), ou o antissionismo (se tratando do povo judeu em Israel).
Defender o direito de Israel à sua Terra (Gênesis 15.17-21; 17.1-9), como prometida na “A Bíblia Sagrada”, através das promessas imutáveis e irrevogáveis de Deus ditas e escritas, por todas as Escrituras (Antigo e Novo Testamento), por meio de seus santos profetas e apóstolos.
Orar pela paz de Jerusalém, como ordenado no Salmo 122:6 e promover a proteção dos judeus, como de qualquer outro povo, que esteja vivendo como imigrante ou cidadão em nosso país, bem como considerá-los como cidadãos.
E por último reconhecê-los como, também, criados por Deus e amados pelo Pai (Is.43.1; Jr.31.3) e como alvos da salvação divina: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego” (Rm.1.16).
O cristão bíblico e genuinamente nascido de novo jamais será um antissemita ou antissionista e sim um verdadeiro amigo de Sião.
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Por Alexandre B. Dutra
Pastor Batista, Diretor dos Amigos de Sião.
Bacharel e Mestre em Teologia e
Mestre em Letras – Estudos Judaicos (USP)
[1] Entrevista à Revista Veja, 15/01/2014; (Rabino Jonathan Sacks falecido em 07/11/2020).
[2] Revista Menorah, Novembro de 2016.
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