O poder do ódio
O ódio, como os demais sentimentos, é um atributo que Deus nos comunicou o qual, devido ao pecado comunicado por Adão, tem sido a causa de muitas desgraças pessoais e mundiais. O ódio em si não é pecado, pois o próprio Deus afirma odiar algumas pessoas, como por exemplo, Esaú. Contudo, o ódio de Deus é imaculado e justo, é expressão de seu desgosto por coisas ou indivíduos (Rm 9).
O poder do amor pode também manifesta-se degenerado no humano, quando este ama o que deveria odiar e, odeia o que deveria amar. Neste texto analisarei o poder do ódio num poderoso guerreiro chamado Hamã, o segundo em autoridade durante o reino persa-medo de Assuero. Hamã era um homem corajoso, inteligente, abençoado com uma esposa, dez filhos, muitos amigos, além de ser muito bem-sucedido, obtendo o reconhecimento e a confiança do glorioso Assuero. Contudo, um acontecimento banal fez brotar no coração de Hamã um ódio tão forte que apoderou-se inteiramente dele, ao ponto de cegá-lo para todas as bênçãos que o alcançara, ao mesmo tempo em que o impelia a um objetivo cruel que tornou-se o principal propósito de sua vida, convertendo-se na sua única fonte de alegria e realização.
O ódio de Hamã foi despertado devido a um subalterno, o judeu Mordecai, que recusava-se, talvez devido à sua fé, prostrar-se diante dele como os demais servos. Aquele judeu “teimoso” foi o gatilho que disparou o ódio mortal em Hamã e trouxe à tona a magnitude de sua arrogância e insegurança. Hamã confessou diante de sua esposa, filhos e amigos (para a tristeza deles) que todos eles nada valiam para ele enquanto Mordecai existisse. O ódio em Hamã era tanto que contaminou sua família a qual passou a odiar, sem justa razão, o mesmo judeu. Seu ódio foi tão intenso quanto um tsunami ao ponto de alcançar os judeus, o povo de Mordecai, que teriam que deixar de existir para que Hamã se tornasse feliz – como foi com Hitler! (Et 3-5).
Hamã, na verdade, pode ser qualquer um de nós quando abrigamos um ressentimento que faz com que a presença ou a menção do nome de alguém nos transforme num “Hulk” despertado pelo ímpeto de destruir quem incomoda. Somos um Hamã quando deixamos de nos alegrar com nossa família, amigos e a prosperidade pessoal e nos alegramos em pensar e desejar o mal ao objeto do nosso ódio, seja uma pessoa, um povo ou uma instituição.
O ódio de Hamã trouxe desgraça para ele, para sua família e amigos e, além de tudo, Mordecai, a quem Hamã odiava herdou seus bens pessoais e sua posição no reino. Aprendamos com Hamã que devemos odiar sim, mas apenas o que Deus odeia e mesmo assim, permitir que o amor supere quaisquer sentimentos degenerado ao ponto de, como Jesus, darmos a vida por quem nos odeia ou por quem deveríamos odiar. O Deus cristão não tem prazer no mal, nem mesmo no mal do ímpio (Et 6-9; Ez 18).