(Parte 2)
Paulo instruiu Timóteo a “guardar este mandamento sem mancha e ser irrepreensível, até a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo” (1Tm 6:14). Esta epístola em particular contém mandamentos sobre coisas como o papel da mulher no ministério (1 Tm 2:12), que é amplamente considerado um “não essencial” hoje. Paulo ensinou Timóteo para ter uma abordagem totalmente diferente para tais ensinamentos.
Em nenhum lugar nas Escrituras somos ensinados a tratar alguma doutrina bíblica como “não essencial”, por qualquer que seja o motivo. Nenhuma doutrina é “não essencial”. Embora nem todas as doutrinas tenham o mesmo significado e peso, nada disso é “não essencial”.
Considere as seguintes questões que são hoje amplamente tratadas como “não-essenciais”, mesmo por aqueles que se dizem batistas conservadores:
– Trajes modestos é considerado como um não-essencial, mas na realidade é uma doutrina fundamental, porque a Bíblia tem muito a dizer sobre isto. Existe mais de 12 passagens bíblicas sobre este tópico que contêm princípios que podem ser aplicados a qualquer época ou cultura sobre o assunto. A Bíblia fala sobre a questão de trajes modestos e não vamos tratar isso como uma espécie de “não essencial”. Aqueles que honram a Palavra de Deus podem atrair linhas de roupas de maneiras ligeiramente diferentes, mas eles não vão tratar este assunto como um “não essencial”.
– A música cristã, outro assunto chamado de “não essencial”, é na verdade uma doutrina fundamental (Efésios 5:19; Colossenses 3:16). Dezenas de versículos tratam diretamente da música e muitas outros contêm princípios aplicáveis à música. A música é uma das forças mais poderosas da sociedade moderna. A música está no coração e alma do mundanismo e da apostasia hoje. Isto é um elemento importante na edificação de uma igreja, mundialmente. Tratar a música como uma espécie de “não essencial” é loucura espiritual. A adoração em “espírito e em verdade” é uma doutrina fundamental (João 4:23), então a questão da adoração contemporânea NÃO PODE ser algo “não essencial.”
A inconformidade com o mundo é uma doutrina fundamental. Muitos versículos ensinam direta e claramente a doutrina da separação do mundo (por exemplo, Romanos 12:22; Efésios 5:11; Tito 2:12; Tiago 1:27; 4:4; 1 João 2:15-17; 5:19; Provérbios 4:14-15).
Diante de tudo isso, como deve o verdadeiro servo de Deus agir diante do erro da liderança espiritual de uma igreja? Será que Deus nos deu “um cheque em branco” para seguir sem questionamentos a posição ou atitude de um líder espiritual? Obviamente que não. É mandamento de Deus, como veremos abaixo, confrontar qualquer pessoa com a Bíblia, principalmente os líderes espirituais, pois os erros destes tem consequências maiores, não só para o rebanho, mas também para eles mesmos, pois a severidade de Deus destinada aos líderes espirituais desobedientes será maior. Todo homem pode e deve ser confrontado com a Bíblia para saber se ele está andando nos caminhos do SENHOR. Para não sermos enganados, temos que agir como os bereanos, que foram chamados de nobres por confrontar se aquilo que ouviam de Paulo estava de acordo com as Escrituras. (At 17:11, 1 Pe 3:15-16, Jd 3, 2 Tm 4:2-5, Jo 7:24, Fp 1:16, Cl 4:5-6, 1 Ts 5:21, 1 Tm 5:20, Tt 1:10)
– Severidade de Deus sobre a Liderança Pastoral:
“E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá.” (Lc 12:48b).
Vemos nesta passagem que o contexto aqui é sobre vigilância. O servo negligente guardou os talentos que seu Senhor os havia confiado, e em vez de coloca-los no banco para que rendesse juros ao seu Senhor, preferiu guarda-los. O seu Senhor o chamou de servo inútil e o lançou fora para as trevas exteriores (Mt 25:30). Esse é o risco daquele pastor a quem Deus confiou ovelhas para que fossem cuidadas, mas preferiu cuidar de seu próprio ventre. “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza, e dize aos pastores: Assim diz o Senhor DEUS: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas?” (Ez 34:2)
– Repreensão do Pastor/Presbítero/Bispo na presença de todos
“Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas. Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor. Conjuro-te diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade.” (1 Tm 5:19-21)
Uma vez comprovado que um líder espiritual tenha realmente cometido pecado que exija disciplina pública, os demais não podem se omitir de repreendê-lo. Willian Hendriksen esclarece que os líderes espirituais que andam por vias pecaminosas não devem ser poupados. Aliás, seus pecados devem ser punidos ainda com mais severidade do que os demais. A lei fazia a mesma distinção (Lv 4:22, 27). Timóteo devia não só fazer com que seu pecado ferisse sua consciência, mas que, no caso de líderes espirituais, isso fosse feito não privativamente, nem na presença de apenas uns poucos (Mt 18:15-17), mas publicamente, na presença de toda a igreja, para que os demais líderes espirituais também viessem a sentir-se cheios de um piedoso temor de praticar o mal (Gn 39:9; Sl 19:13).
Por que Paulo evoca a indispensável presença de testemunhas para se acusar um líder espiritual? Este é um direito de todo crente, tanto na antiga como na nova Aliança (Nm 35:30; Dt 17:6; Mt 18:16; Jo 5:31; 8:14). Em seu ofício de governo, os líderes espirituais não podem se iludir pensando que se tornaram intocáveis. A liderança espiritual não possui imunidade diante da justiça de Deus. John Murray comenta que é na igreja que a supervisão é exercida. Existe aqui uma sutil e necessária distinção. Enquanto a supervisão é sobre a igreja, ela não está acima de algo da qual os líderes espirituais se isentam. Eles não são senhores sobre a herança do Senhor; eles mesmos fazem parte do rebanho e devem ser exemplos para ele.
A Escritura tem um modo singular de enfatizar a unidade e diversidade, e neste caso, a diversidade que reside no exercício do governo é mantida na mesma proporção em que lembramos que os líderes espirituais também são sujeitos ao governo que eles exercem sobre outros, governo este que deverão prestar contas a Deus. Líderes espirituais são membros do corpo de Cristo e estão sujeitos à mesma espécie de governo da qual eles são administradores.
Os pecados dos Pastores/Presbíteros/Bispos e dos diáconos são como os de qualquer outro membro da igreja local. Mas, por causa da sua posição dentro do corpo de Cristo e a sua responsabilidade de ser exemplo dos fiéis, o seu escândalo tem maior repercussão. Diferentemente de um membro da igreja que não ocupa nenhum cargo de liderança, o líder espiritual quando errado deve ser repreendido publicamente para que os demais líderes também venham sentir-se cheios de um piedoso temor de praticar o mal (Gn 39:9; Sl 19:13). Já os membros de igreja que não ocupam posição de liderança devem ser repreendidos privativamente, conforme Mateus 18:15-17.
“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2Tm 3:16,17)
Louvado seja Deus pela Sua Palavra!
Peter Issar – Ministra aulas e faz seminários em Bibliologia; Curso de Apologética Cristã; Curso de Autoconfrontação Bíblica da Biblical Counseling Foundation – BCF, EUA, onde recebeu treinamento. Oferece serviços de Consultoria de TI; Consultoria em Desenvolvimento de Negócios. Foi diretor e gerente em multinacionais da área de TI nos EUA e Brasil. Tel.: (11) 2263-0402 – peterissa@hotmail.com
*2 Ref. Bíblicas: “A Bíblia Sagrada” – Versão Almeida Corrigida, Fiel (ACF) – Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (SBTB). Rua Júlio de Castilhos, 108 – Belenzinho – São Paulo, SP – 03059-001 – Tels: São Paulo: 11.2693-5663. Outros locais: 0800-12-4008 – www.biblias.com.br – Email: sbtb@biblias.com.br
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