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A doutrina da trindade

Pr. Carlos Magno Vitor da Silva

Textos centrais: Mt 28.19; 2Co 13.14

 

INTRODUÇÃO

 

            Em uma pesquisa feita entre 23 países, o Brasil é o terceiro país onde mais se acredita em Deus, com 84% dos entrevistados; em primeiro lugar vem a Indonésia, com 93%, e em segundo lugar a Turquia, com 91%. No Brasil, apenas 3% dizem não acreditar em Deus ou em qualquer ser supremo (G1.GLOBO, 2011).

 

            C.S. Lewis (1989) chama a atenção para essa realidade comum entre os seres humanos: a humanidade está dividida entre a maioria que crê em algum Deus, ou deuses, e a minoria que não crê. Nesse particular, o Cristianismo se coloca ao lado da maioria.

 

“Todos os que creem em Deus podem ser divididos segundo a espécie de Deus em que creem” (LEWIS, 1989, p. 19). E aqui se faz mais uma distinção entre o Cristianismo e as demais crenças em Deus: o panteísmo acredita que Deus está além do bem e do mal, que o universo é uma extensão de Deus, ou seja, tudo é Deus e Deus é tudo; Deus não é considerado como um ser pessoal; o Cristianismo, por sua vez, considera Deus definitivamente “bom” ou “justo”, o Criador, um ser pessoal, Aquele que inventou e fabricou o universo, como o pintor faz um quadro. O mundo em que vivemos é o ateliê de um grande escultor (LEWIS, 1989).

 

A crença em Deus como um ser pessoal estabelece uma grande diferença entre o Cristianismo e diversas outras crenças religiosas. Em decorrência disso, este pequeno artigo tem como objetivo analisar a pessoa triúna de Deus conforme ele se revelou nas Sagradas Escrituras, estabelecendo, assim, a crença fundamental do Cristianismo ao longo dos séculos.

 

1 A REVELAÇÃO DE DEUS NAS ESCRITURAS

 

O termo “trindade” (do latim “trinitas”) não aparece nas Escrituras.  Atribui-se a Tertuliano (c.160 - c.220), considerado como um dos pais da Igreja, notável apologista cristão do II século, o desenvolvimento da terminologia característica da Trindade. Tertuliano criou inúmeros vocábulos novos na língua latina, tendo três delas de grande importância no âmbito teológico: Trinitas, de onde veio a palavra trindade; Persona, referindo-se ao “papel que alguém representava”; Tertuliano, com isso, pretendia que seus leitores entendessem a ideia de “uma substância (ousia) em três pessoas (hypostaseis)”; Substantia, para expressar a ideia de uma unidade fundamental na Trindade. A “substância” era o que as três pessoas da Trindade tinham em comum (MCGRATH, 2005).

 

J. I Parker (1998, p.39) destaca que: “Embora a linguagem técnica do trinitrarianismo não seja aí encontrada, a fé e o pensamento trinitários estão presentes por meio de suas páginas, e, neste sentido, a Trindade deve ser reconhecida como doutrina bíblica: uma eterna verdade a respeito de Deus, que, embora não explícita no Velho Testamento, é clara e marcante no Novo”.

A Bíblia é resultado da revelação de Deus. Porque Deus tomou a iniciativa de se revelar e se tornar conhecido, nós passamos a conhecê-lo.  Deus é um Deus que se revela. “Se Deus não se revelar, nada há a fazer que nos habilite a encontrá-lo” (LEWIS, 1989, p. 93). O Salmo 19 expressa justamente acerca disso, de como tanto a natureza como as Escrituras manifestam a Glória de Deus. Em Dt 29.29, Moisés afirma que: "As coisas encobertas pertencem ao Senhor, o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei”.

 

“A doutrina da Trindade pode ser considerada como resultado de um processo de reflexão crítico e contínuo sobre o modelo de atividade divina revelado nas Escrituras e continuado na experiência cristã” (MCGRATH, 2005, p.374-375). De fato, a doutrina da Trindade só faz parte da Teologia porque primeiro se revela nas páginas do Evangelho. Em Mt 3.16-17, que trata do batismo de Jesus por João Batista no rio Jordão, demonstra-se a presença das três pessoas da Trindade ao mesmo tempo: Jesus sendo batizado, o Espírito descendo como pomba sobre ele e a voz de Deus, dizendo: “Este é meu Filho amado, em quem me comprazo”. Esse texto, por si mesmo, já combate várias heresias do II século, como a do modalismo ou monarquianismo.

 

Percebe-se, assim, que a doutrina da Trindade está intimamente relacionada com a doutrina da divindade de Jesus. Quanto mais a igreja insistia no fato de Cristo ser Deus, mais era pressionada a esclarecer a forma como Cristo se relacionava com Deus (MCGRATH, 2005). “A doutrina origina-se dos fatos que os historiadores do Novo Testamento relatam, e do ensino revelador que, humanamente falando, decorreu desses fatos. Jesus, que orou a seu Pai e ensinou seus discípulos a fazerem o mesmo, convenceu-os de que Ele era pessoalmente divino, e de que a crença em sua divindade e na retitude de dedicar-lhe adoração e oração é básica à fé neotestamentária (Jo 20.28-31; cf. 1.18; At 7.59; Rm 7.59; Rm 9.5; 10.9-13; 2Co 12.7-9; Fp 2.5,6; Cl 1.15-17; 2,9; Hb 1.1-12; 1Pe 3.15)” (PARKER, 1998, p. 38).

 

Dados acerca da natureza triúna de Deus são muito recorrentes em o Novo Testamento. Em 1Co 12.4-6, Paulo fala sobre a diversidade de dons. Em cada verso, ele destaca como a Trindade opera em harmonia: fala do Espírito, do Senhor Jesus e de Deus. Em 2Co 1.21-22, Paulo apresenta a mesma visão trinitária ao abordar como a Trindade opera na salvação e preservação do crente. Uma notável declaração a respeito das funções de cada um no plano de salvação encontra-se em Gl 4.6: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai”.

 

São muitas as referências sobre a Trindade nas Escrituras. Duas delas são claras e irrefutáveis: a primeira: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19), na fórmula do batismo, e a segunda: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém” (2Co 13.14), na bênção apostólica.

 

2 O RELACIONAMENTO DO CRISTÃO COM A TRINDADE

 

            Inevitavelmente o cristão, ao amar, servir e adorar ao Senhor, envolve-se com a Trindade. Não há como escapar disso. Quando ele ora, por exemplo,  dirige-se ao Pai, em nome de Jesus, sendo intermediado pelo Espírito Santo: “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26); “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente” (Mt 6.6); “E naquele dia nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar” (Jo 16.23).

 

Para se ter uma vida cristã equilibrada e em constante crescimento, é necessário ter um relacionamento saudável com Deus. Isso exige que o cristão experimente mais de Deus em sua vivência diária, que ele, como diz Oseias (6.3, 6) conheça ao Senhor: “Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra. [...] Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos”.

 

Jesus mantinha um relacionamento perfeito com seu Pai: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.21). Em João 10.30 Jesus disse certa vez: “Eu e o Pai somos um”. E mais tarde, ele justifica essa perfeita harmonia entre ele e o Pai, afirmando: “Eu te conheci” (Jo 17.25). Essa perfeita harmonia, unidade e amor dentro da Trindade, servem como modelo para a vida cristã: “E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja” (Jo 17.26). Precisamos mesmo conhecer mais de Deus!

 

            João destaca como toda a Trindade está empenhada pela salvação do homem. Todos agem em comum acordo, com um só propósito: “Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num” (1Jo 5.7-8). A perfeita unidade da Trindade serve-nos de parâmetro para a nossa vida cristã.

 

            Tim Chester (2018), pastor da Igreja Grace in Boroughbridge, North Yorkshire, Inglaterra, é autor de mais de 20 livros, principalmente de dois de grande importância acerca da Trindade: “Experimentando mais de Deus” e “Conhecendo o Deus trino”, publicados pela editora Fiel. No livreto “Experimentando mais de Deus: Guia de estudo”, Tim Chester desenvolve uma série de questões, nas diversas áreas da vida cristã, sobre como podemos experimentar mais da Trindade em nosso cotidiano:

·         Em cada prazer, podemos experimentar a generosidade do Pai;

·         Em cada dificuldade, podemos experimentar o aperfeiçoamento do Pai;

·         Em cada oração, podemos experimentar o acolhimento do Pai;

·         Em cada falha, podemos experimentar a graça do Filho;

·         Em cada dor, podemos experimentar a presença do Filho;

·         Em cada Ceia, podemos experimentar o toque do Filho;

·         Em cada tentação, podemos experimentar a vida do Espírito;

·         Em cada gemido, podemos desfrutar a esperança do Espírito;

·         Em cada palavra, podemos experimentar a voz do Espírito;

·         Em comunhão uns com os outros, podemos experimentar o amor de Deus;

·         Em arrependimento e fé diários, podemos experimentar a liberdade de Deus.

A vida cristã envolve, portanto, uma experiência viva e dinâmica com Deus, uma comunhão íntima com a Santíssima Trindade.

 

3 CONCLUSÃO

 

Consta nos Distintivos Batistas Regulares a afirmação mais basilar da fé cristã, que diz: “Há um só Deus (Êxodo 20:2—3; Deuteronômio 6:4) que existe eternamente em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo (Mateus 28.19). Estas três pessoas são iguais em poder, atributos e glória, mas executam ofícios distintos (João 3.16; 5.19-23; 10.30-39; 14.16-17; 16.5-15)” (SWEDBEG, 2003, p.10).

 

Uma síntese perfeita acerca da Trindade encontramos em uma das obras mais importantes de Agostinho, um clássico da teologia cristã, intitulada A Trindade (1994, p. 27): “A Trindade é um só e verdadeiro Deus, e quão retamente se diz, se crê e se entende que o Pai, o Filho e o Espírito Santo possuem uma só e mesma substância ou essência”.

[...] O Pai, o Filho e o Espírito Santo perfazem uma unidade divina pela inseparável igualdade de uma única e mesma substância. Não são, portanto, três deuses, mas um só Deus, embora o Pai tenha gerado o Filho, e assim, o Filho não é o que é o Pai. O Filho foi gerado pelo Pai, e assim, o Pai não é o que o Filho é. E o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho, mas somente o Espírito do Pai e do Filho, igual ao Pai e ao Filho e pertencente à unidade da Trindade (AGOSTINHO, 1994, p.31).

 

J. I. Parker (1998, p.40) encerra seu estudo sobre a Trindade, afirmando: “A importância prática da doutrina da Trindade é que ela requer que demos igual atenção e igual honra às três pessoas na unidade de seu gracioso ministério para conosco”. E ele tem muita razão! Não há como dissociar nosso relacionamento com a Divindade, sem adorar e ser a cada dia gratos ao Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

 

O apóstolo João destaca o binômio que deve caracterizar a vida do cristão: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido.” (1 Jo 5.1). Crer e amar! Justamente nessa ordem!  Que possamos crescer a cada dia na fé e no amor ao nosso Deus Pai, ao nosso Senhor Jesus e ao bendito Espírito Santo.

 

REFERÊNCIAS

A BÍBLIA Sagrada. Edição Almeida, Corrigida, Fiel (ACF). São Paulo: SBTB, 2007.

AGOSTINHO. A Trindade. São Paulo: Paulus,1994.

G1.GLOBO. Brasil é 3º país onde mais se crê em Deus, diz pesquisa. 2011. Disponível em:< http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/04/brasil-e-3o-pais-onde-mais-se-cre-em-deus-em-pesquisa.html>. Acesso em: 29 jul. 2020.

LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. 3. ed. São Paulo: ABU, 1989.

MCGRATH, Alister. E. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2005

PARKER, J. I. Teologia concisa: síntese dos fundamentos da fé cristã. Campinas-SP: Luz para o Caminho, 1998.

SWEDBEG, Mark A.; TAVARES, Almir Marcolino; MATHEWS, Richard; BEZERRA FILHO, José (Org.). Os distintivos dos batistas regulares. São Paulo: EBR, 2003.

 

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