A nossa sociedade é bem cruel quando se trata de cobrar resultados. Vivemos sendo pressionados a corresponder às expectativas que a sociedade nos impõe. Se somos solteiros, as pessoas não cessam de nos cobrar por relacionamentos: namoro, noivado e casamento. Até ouvimos: - "estou orando por você irmã/irmão". Quando conseguimos atender essa expectativa nos casando, nos vemos sendo cobrados para termos filhos. Ouvimos a todo tempo: - "e aí, quando vão encomendar o baby?" ou, "está demorando heim...". Quando o primeiro filho nasce, começa a cobrança pelo segundo filho: - "quando vai dar um irmãozinho/irmãzinha para fulano?" E assim caminhamos nós, muitas vezes sem perceber, sofrendo por não atender as expectativas daqueles que não têm nada a ver com a nossas vidas, nossa realidade e não conhecem nossas dificuldades e lutas.
E essa cobrança se torna mais difícil e mais cruel quando os filhos crescem. Costuma-se atribuir aos pais tanto o sucesso quanto o fracasso de seus filhos. Se os filhos "deram certo" é porque nós "acertamos na educação deles". Se "deram errado", isto é, não estão dentro dos padrões e das expectativas impostas pela sociedade, "a culpa é dos pais que não souberam educar". "A culpa é da família" que não soube conduzir o menino ou a menina de acordo com os princípios da Palavra de Deus, não teve pulso para disciplinar, enfim, fracassou.... Os próprios pais parecem buscar essa aprovação. É comum nas rodas de conversas ouvirmos pai/mãe "se gabando" da educação, do comportamento, da aprovação na faculdade, do novo emprego conquistado, pelo casamento dos filhos. E não há nada de errado em demonstrarmos alegria e contentamento quando nossos filhos são bem sucedidos. O perigo é acharmos que tudo aconteceu por causa apenas dos nossos esforços para educá-los, das nossas estratégias, da nossa capacidade como pais.
É possível encontrarmos pais piedosos, servos fiéis de Deus, que criaram seus filhos no temor e no conhecimento da Palavra do Senhor e que seus filhos "não deram certo", ou seja, fizeram escolhas para suas vidas que não são aprovadas socialmente nem pela palavra de Deus. Assim como é possível encontrarmos pais ímpios, que criaram seus filhos sem nenhum temor de Deus, sem nenhum conhecimento da Palavra, sem exemplos saudáveis, sem cuidado e proteção e mesmo assim, estes são filhos amorosos, dedicados, educados, estudiosos, virtuosos. Como explicar isso? Não tenho a resposta, mas olhando para as Escritura Sagradas podemos enxergar claramente homens fiéis e tementes que viram seus filhos fazer escolhas e tomarem caminhos que certamente fizeram seus corações sangrarem.
O primeiro que me vem à mente é Sansão. Alguém gerado para cumprir propósitos de Deus na vida e na história do povo de Israel. Gerado de forma milagrosa, uma vez que sua mãe era estéril. Em Juízes 13.12, Manoá, pai de Sansão pergunta ao anjo: - “Podes então dar-nos mais algumas instruções acerca de como haveremos de criar o bebê depois dele nascer?”. O anjo os orientou e eles fizeram tudo de acordo com essas orientações, mas na idade adulta vemos Sansão desobediente, se envolvendo emocionalmente com mulheres que o levou à ruína espiritual, passou de Juiz de Israel a "palhaço" diante dos filisteus, inimigos do povo de Israel. Como Deus é fiel à sua Palavra, Ele cumpriu seu propósito de libertar o povo hebreu por meio da vida de Sansão, apesar de sua morte prematura. Os pais de Sansão falharam na educação dele? O relato bíblico não demonstra isso, mas as escolhas e as decisões tomadas por Sansão ao longo da sua vida certamente não deixaram seus pais orgulhosos.
Nossos filhos nem sempre são aquilo que planejamos. Efraim era filho de José, governador do Egito. Cresceu bebendo o leite da piedade e ouvindo as histórias mais comoventes de seus ancestrais. Casou-se. Teve filhos, mas sua história foi marcada por muita dor. A Bíblia registra os dramas de sua família (1Cr 7.20-29). Dois de seus filhos, Ézer e Eleade, foram mortos pelos homens de Gate, roubando o gado destes. Efraim sepulta no mesmo dia seus dois filhos, mortos como ladrões de gado. Já imaginou o que significou para José, o governador do Egito, ir ao funeral de seus netos, assassinados como ladrões? (Gn 50.23). Efraim não fez outra coisa senão chorar (1Cr 7.22). Mesmo quando nasceu outro filho, Efraim não conseguiu superar a dor, pois colocou o nome no menino de Berias, porque as coisas iam mal na sua casa (1Cr 7.23). O que nos enche a alma de esperança é que da família de Berias, nasceu Josué, o homem que libertou Israel da escravidão do Egito mais tarde. Aquilo que hoje é o nosso maior motivo de tristeza, pode se converter amanhã no nosso maior motivo de alegria![1]
Esses dois exemplos de homens piedosos e tementes a Deus que tiveram episódios de dor e sofrimento em suas famílias como consequência das escolhas desajustadas e intempestivas de seus filhos nos servem de alerta e de consolo. Se você estiver vivendo ou já viveu situação de dor e sofrimento por ter um filho ou filha fazendo escolhas que te faz sentir vergonha e humilhado(a), saiba que não estais sozinho(a), muitos outros servos e servas de Deus passam por lutas como esta. Não permita que a sociedade julgue sua capacidade de educar e amar seus filhos, esse é um assunto entre você e Deus. Para aqueles cujos filhos "deram certo", estão bem encaminhados, nunca deram preocupação, agradeçam, glorifiquem a Deus e se lembrem: - não é por sua força ou estratégia, MAS A GRAÇA DE DEUS!
"Quando pensamos que tudo depende de nós, não enxergamos como podemos fazer parceria com eles enquanto companheiros pecadores amados. Em vez disso, supomos erroneamente que cabe a nós fazê-los crer e mudar seus corações. Não podemos alcançar seus corações. Não podemos sequer alcançar os nossos" (Jr 17.5).[2]
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[1] https://1ibl.org.br/palavra-do-dia/a-familia-de-efraim/, capturado em 08/02/2024
[2] Pais Fracos, Deus forte. Criando filhos na Graça de Deus. Elyse M. Fitzpatrick e Jessica Thompson
Autora: Maria Genaina de Almeida Ribeiro Reder
Casada - Mãe de um casal de filhos - membro da Igreja Batista em Jardim Paulista
Guarulhos SP. Servindo no Ministério de ensino. Professora aposentada.
Contato: primeiroped@gmail.com
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