“Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe. Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja”. (3 João 1.9,10)
Desde Diótrefes quando a terceira epístola de João foi escrita, por volta de 70 a 100 d.C., até 2023 d.C. muitos têm sido identificados como insurgentes contra a liderança pastoral nas igrejas e contra o próprio Cristo. Ao identificar Diótrefes como alguém que procura ter o “primado”, João fez uso do termo que é usado pelo apóstolo Paulo para identificar a posição do próprio Senhor Jesus na carta aos Colossenses 1.18 que aponta Ele como o primeiro, e tendo o “primado” em todas as coisas: “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a “preeminência”. Diótrefes amava ter a primazia, ser o primeiro, mandar. Por isso, se achava dono da igreja da qual fazia parte.
Apesar da ênfase eclesiológica paulina de que somos um corpo, do qual Cristo é cabeça, a tendência humana para dominar, permanece, geração após geração. Portanto, é necessário refletir sobre esse tema, porque os donos das igrejas causam muitos males, afetam a comunhão e inibem a ação do Espírito Santo. Algumas igrejas, no linguajar pejorativo, já se tornaram conhecidas como “cemitério de pastores”.
Os pecados de dominação por esses donos, geralmente estão relacionados a membros fundadores, ou entre os mais antigos, ou entre os mais abastados. Com cargos ou não, eles acabam mandando na igreja. Se julgam pessoas diferenciadas e respeitadas e, assim, em decisões nas assembleias seus votos tem muito peso e influência. Se posicionam para falar e votar antes de todos, para que outros sejam influenciados e sigam na mesma direção. Por sua influência até pastores acabam sendo controlados ou vão embora.
Certamente não aprenderam o ensino que Jesus passou a seus discípulos pouco antes da sua ida à Cruz, em Mateus 20.26-28, “... quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
Querer ser o primeiro é sinal de orgulho, vaidade, egoísmo. É ter um conceito muito alto de si mesmo e ter a tendência de rebaixar os demais. Esse era o perfil de Diótrefes. Recentemente em um episódio de confronto com um desses grupos de donos da igreja, um dos líderes deles disse: “O pastor sabe que estou sempre do lado dele, mas preciso ser consultado antes para ver se estou de acordo antes que leve para a assembleia...”.
Para alcançar seus intentos, Diótrefes usava de maledicência para diminuir os possíveis concorrentes, como fez com João (3 Jo 10). A maledicência é um dos piores pecados de acordo com a Palavra de Deus. Diótrefes estava difamando o apóstolo João. A difamação, além de pecado, aqui no Brasil é crime contra a honra previsto no Código Penal Brasileiro. Ter criminosos assim na Igreja é muito triste. Vale a lembrança do que está registrado em Provérbios 16.28. “O homem perverso instiga a contenda, e o intrigante separa os maiores amigos”. Ao crente é proibido espalhar falsas notícia (Ex 23.1).
Os donos das igrejas querem a primazia, os holofotes, geralmente valorizam mais o patrimônio do que as pessoas. Falam muito em “suor derramado para colocar cada tijolo nas paredes do prédio da igreja”. Quando se sentem ameaçados em seu status, reagem duramente até com ameaças veladas ou abertamente declaradas.
João era um ancião, o último dos apóstolos, e mesmo assim Diótrefes não o respeitava, espalhando mentiras a seu respeito. Os modernos donos das igrejas, em alguns casos, chegam a fazer uso de dossiês e factoides contra aqueles que ameaçam seus domínios. Eu já acompanhei casos em que até pastores tentaram acabar com colegas para manterem a proeminência. No meu caso, em particular, já fui preso devido a uma carta anônima me incriminando. Bem mais tarde um dos culpados assumiu e confessou.
Os modernos Diótrefes procuram isolar suas igrejas a ponto de transformá-las em uma espécie de feudo, quase uma seita, para continuarem dominando. São excludentes, preferindo a convivência apenas com os iguais, esquecendo-se que a igreja é formada por diferentes, um grupo heterogêneo guiado pelo Espírito através da exposição da Palavra, tendo Cristo por cabeça.
A solução para os donos das igrejas é tratar o coração, submetendo-se. Em seguida, devem calibrar a sua visão em relação ao Corpo de Cristo do qual todos nós somos membros e nenhum, além de Cristo, é cabeça. Mas, até nisso, os donos das igrejas tentam manipulação e, a exemplo do que acontecia na igreja local em Corinto, que se dividia em partidos que queriam a primazia, sendo uns de Pedro, outros de Paulo e outros de Apolo.... Mas, provavelmente, o pior grupo era aquele composto pelos que diziam ser de Cristo (1 Co 1.12).
Pr. Valter R. Nogueira e Pr. Carlos A. Moraes
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