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Foto do escritorAna Paula Pinto

Para além das janelas do janeiro branco

Um olhar para saúde mental no meio cristão

O primeiro mês do ano é dedicado à conscientização sobre os cuidados com a saúde mental, através de campanhas que possibilitem um autorreflexão, autocuidado emocional.  O sofrimento mental atinge homens, mulheres, crianças em todo globo, cujo índices dos transtornos mentais aumentaram consideravelmente, principalmente com a pandemia da Covid-19 e a igreja não pode mais negligenciar esse assunto.


As transformações societárias imposta pela a pandemia da covid-19 impulsionou impactos não só sociais, políticos e econômicos devastadores, mas impactos na saúde mental da população. Aumentou os fatores de risco para os problemas de Saúde Mental, incluindo desemprego, insegurança financeira, luto e perdas. Em 2020, durante a pandemia da COVID-19, os transtornos depressivos graves aumentaram em 35% e os transtornos de ansiedade em 32%. (OPAS, 2023).


A saúde mental, é resultado da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais, ou seja a, doença mental tem características biopsicossociais.   A exemplo disso, podemos citar os fatores psicossociais (estresse, problemas familiares, escolar entre outros), genéticos (hereditariedade, histórico familiar), ambientais (violências, abusos psicológicos, sexuais, físico, etc), biológico (alguma anormalidade do sistema nervoso central elementos que colaboram para o desenvolvimento da doença mental. (BRASIL, 2023).


Desse modo, a saúde mental é referenciada em seu aspecto integral (a integração bio-psico-socio-espiritual), em que seu conceito transcende o âmbito individual e abrange uma rede de fatores interconectados que reflete na nossa sociabilidade, nas relações humanas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Saúde Mental pode ser considerada, um estado de bem-estar vivido pelo indivíduo, que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade. (BRASIL, 2023).


Apesar dos avanços normativos sobre a saúde mental e sobre os direitos das pessoas com transtornos mentais, ainda é um desafio falar sobre essa temática diante dos tabus, preconceitos e desinformações que, ainda cercam esse debate, e invisibilizam pessoas que necessitam de ajuda profissional e, muitas delas não buscam tratamento adequado, inclusive no nosso meio cristão.


Jesus nos convida a entregarmos todas as nossas dores, cansaço, ‘’ os fardos’’ da nossa vida terrena a ele (Mateus 11.28-30) e nos alerta que teremos aflições (João 16.33), espinhos na carne, mas ele nunca nos abandonará, não nos deixará abalados (Salmos 62.1-2). Que alegria podermos entregar todos os nossos problemas a Jesus, que está sempre perto nos para nos ajudar, consolar, aliviar nossas dores.  (Salmos 34.18; 2CO 1.3-4).


Já existem pesquisam que ressalta o poder da espiritualidade na saúde mental, em que o fortalecimento da espiritualidade tende a contribuir para o bem estar mental daqueles em sofrimento, e corpo de cristo deve estar preparados para enfrentar os desafios advindos da doença mental que requer não só aconselhamento e acompanhamento pastoral, mas diagnóstico, tratamento medicamentoso e terapêutico.

 

DEPRESSÃO, SUICÍDIO E A IGREJA

Atualmente, o ‘’ Brasil ocupa o quarto lugar entre os países da América Latina com maior crescimento anual de suicídios’’, atitude extrema da pessoa com algum tipo de transtorno mental, quanto a vida perde totalmente o sentido (Araújo e Torrente, 2023, p.1) E o mais preocupante ainda é que esse ato tem atingido servos de Deus que abriram mão da sua vida por não dar conta de lidar com tamanha dor. Exemplos bíblicos mostram que o suicídio não é algo ‘’ novo’’, e que essa “onda’’ também afeta líderes que andavam com Deus, tais como Sansão, Saul e Judas que tiraram suas vidas.


A pesquisa realizada pelo Instituto Schaeffer, revela que “70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral afetou negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo”.  E dentre os motivos mais comuns associados ao suicido de pastores e lideres é a depressão associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais, baixos salários e isolamento por falta de amigos. (SEPAL, 2023)

Esse é apenas um dos fatos relacionados à saúde mental que afeta o corpo de cristo como um todo. Não existem pessoas mais ou menos propensa a desenvolver uma doença mental e precisamos falar sobre esse tema tão complexo, desafiador e delicado. Biblicamente, Jesus nos encoraja a compartilhar nossas lutas, a dividir os nossos fardos com ele, e com a comunidade cristã e precisamos enfrentar isso com sabedoria para não calar as vozes de quem sofre.

 

DOENÇA MENTAL NÃO É PECADO OU AUSÊNCIA DE FÉ

É comum associarmos a doença mental a uma atitude de pessoas fracas ou associá-la a uma questão espiritual, ao pecado. A saúde mental é um problema de saúde pública, que deve ser tratada com seriedade, pois a gravidade do sofrimento mental pode levar a incapacidades e, até, mesmo a morte

Depressão, ansiedade, síndrome do pânico, síndrome de burnout, transtorno afetivo bipolar, transtornos de personalidade (bourdealine, narcisista, etc), fobia social ou ansiedade social, TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo, esquizofrenia   são alguns exemplos de transtornos mentais que provavelmente já ouviu falar, que afetam milhares de homens e mulheres, e o corpo de cristo não está imune a essa doença. 


Doença mental não é frescura, nem ausência de fé, espiritualidade (João 9.3). Imagine se usássemos a mesma lógica para outras doenças menos estigmatizadas como diabetes, hipertensão e o câncer, entre outras. Seria uma catástrofe! Seria invalidar o poder de cristo na vida das pessoas em sofrimento, e fortalecer tabus e preconceitos vinculados a idade média.


É fundamental cuidarmos da nossa alma, corpo e espírito e, também, dar a devida atenção aqueles que necessitam de acompanhamento   de especialistas da área da psicologia e da psiquiatria, para diagnóstico e tratamento. O diagnóstico não cancela a vida de ninguém, mas permite a possibilidade de ter uma qualidade de vida mental e nesse processo, é fundamental confiar em Deus (Naum 1.7), colocar nele nossa esperança, e agradecer mesmo em meio ao sofrimento. Em tudo dai graças ( 1Tes 5.18) (2 Co 1.3-4)

 

COMO LIDAR COM A DOENÇA MENTAL?

Os transtornos mental fazem parte da realidade diária, dentro e fora das igrejas e identificar um transtorno mental pode ser um trabalho difícil, e a tendência humana é evitar certos desconfortos e isolar o problema, ao invés de enfrentá-los. A igreja precisa estar atenta para a saúde mental dos seus membros e buscar quebrar esses estigmas e preconceitos que a envolvem, afim de promover ações que fortalecem espiritualmente a vida dos seus membros em sofrimento, e que sejam incluídos com amor e respeito, mesmo sendo diferentes.


Os discípulos de Jesus em seu chamado foram convidados a andar com ele e   enfrentar todos os tipos de problemas, aproximando de pessoas doentes fisicamente e espiritualmente e acolhe-las, tratar com amor, compaixão.  Nossa missão no reino, além de espalhar o amor de cristo é cuidar amar e atender nosso próximo em suas necessidades (Jo 15.12; Ef 4.32; 1Tm 5.8; Mt 22.37-39) que possamos julgar menos, aprender, amar mais o nosso próximo e acolher as pessoas em sofrimento mental sem descriminá-la. Nesse processo é importante fortalecer a vida espiritual, somente em Jesus temos paz em meio à guerra. (Salmos 62. 1-2).


 É fundamental salientar que existem estratégias preventivas dos transtornos mentais e tratamento medicamento e terapêutico que auxiliam as pessoas no enfrentamento da doença, com o intuito de aliviar o sofrimento causado por eles, e que não é vergonhoso cuidar da saúde mental, Mas é um ato de coragem.

 

REFERÊNCIA

CONHEÇA OS 8 PRINCIPAIS TIPOS DE TRANSTORNOS MENTAIS E SUA PREVALÊNCIA. Disponível em< https://zenklub.com.br/blog/palavra-de-especialista/conheca-os-8-principais-tipos-de-transtornos-mentais-e-sua-prevalencia/>

Saúde Mental no Brasil: desafios para a construção de políticas de atenção e de monitoramento de seus determinantes. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ress/a/sHG86NSQNyMdLY5CxdBc3gN/?format=pdf&lang=pt.> Acesso em: 10. Dez.2023

OPAS. Saúde mental deve estar no topo da agenda política pós-COVID-19, diz relatório da OPAS. Disponível em:< https://www.paho.org/pt/noticias/9-6-2023-saude-mental-deve-estar-no-topo-da-agenda-politica-pos-covid-19-diz-relatorio-da> Acesso em: 10. Dez.2023

SEPAL.  Suicido de pastores e Lideres - uma reflexão necessária. Disponível em<https://sepal.org.br/suicidio-de-pastores-e-lideres-uma-reflexao-necessaria/> Acesso em: 10. Dez.2023

OLIVEIRA, Márcia Regina de; JUNGES, José Roque Saúde mental e espiritualidade/religiosidade: a visão de psicólogos. Disponível em< https://www.scielo.br/j/epsic/a/w3hnsrp3wzVcRPL3DkCzXKr/?format=pdf&lang=pt>

Tânia Maria de Araújo1, Mônica de Oliveira Nunes de Torrent. Saúde Mental no Brasil: desafios para a construção de políticas de atenção e de monitoramento de seus determinantes. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, 32(1):e2023098, 2023 disponível em: https://www.scielo.br/j/ress/a/sHG86NSQNyMdLY5CxdBc3gN/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 10. Dez.2023

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