Creio que a Igreja de Jesus é essencial à vida cristã, de modo que não há como ser cristão sem estar integrado nessa comunidade. Jesus é o cabeça de todas as coisas para a Igreja (Efésios 1:22).
É lamentável, para não dizer coisa pior, que em muitos locais, na atualidade, a originalidade da Igreja, a sua essência, fique escondida e mesmo relegada em meio a tantas outras questões de menor importância – às vezes sem importância nenhuma – a exemplo de práticas e ritos religiosos no lugar de relacionamento de maior profundidade – intimidade mesmo – entre irmãos. Se não estivermos atentos podemos ser levados a gastar a maior parte do nosso tempo com questões formais ligadas à pessoa jurídica ou às estruturas físicas como prédios e instalações, programas, excesso de organização e a criação de inúmeros cargos e responsabilidades gerenciais. Devemos ter cuidado para que todo esse ativismo não sirva para mascarar uma possível dificuldade para desenvolver relacionamentos autênticos com Cristo e como nossos irmãos, frequentar casas uns dos outros, comer juntos, conversar não apenas sobre coisas banais, alegrar, entristecer e chorar juntos.
Fazer parte da Igreja de Cristo por meio de uma Igreja local não é uma opção. Jesus disse que o mundo saberá que somos seus discípulos pelo amor que demonstramos uns pelos outros (João 13:34-35). O poder da Igreja está fundamentado na presença de Cristo, experimentada e apresentada por meio de uma comunidade de seguidores que encarnam o Reino de Deus em sua vida comunitária. É na Igreja que descobrimos como amar pessoas com aparência diferente da nossa, com condições sociais ou financeira diferentes da nossa; e até mesmo pessoas que pecam contra nós. E ainda assim essa comunidade mostrará ao mundo que somos discípulos de Cristo pelo amor que demonstramos uns pelos outros. “Cristãos aprendem a verdadeira política, sobretudo, quando trabalhamos por unidade em meio a todos os motivos que danos uns aos outros para não sermos unidos”. (1)
Essa comunidade de remidos por Cristo, a Igreja, é uma embaixada e cada membro é um cidadão e um embaixador do Reino de Cristo, a Nação Santa. A embaixada representa uma nação dentro do território de outra, de modo que a Igreja representa a Nação Santa em cada país, no mundo todo. Nós, embaixadores, não chegamos em aviões ou outro meio de transporte como chegam os embaixadores das nações deste mundo. “Em vez disso, quando o Espírito Santo passa a habitar em nós, é como se chegássemos em máquinas do tempo. O fim da história, pelo poder do Espírito regenerador, pousa na terra já. Nós representamos, agora, o governo dos Céus como ele será plenamente revelado no fim dos tempos”. (2)
“Nesse sentido, a Igreja é a nova ordem. Somos o início do Reino de Deus que já está acontecendo no meio da antiga ordem. Se a Igreja opera propriamente em uma dada localidade, o Reino de Deus é visto. Justiça, paz, amor, cuidado mútuo e generosidade se tornam visíveis. Cristo é visto na terra novamente”. (3)
Nossa marca distintiva (da Igreja e dos seus integrantes) é o ministério da reconciliação (2º Coríntios 5: 18-20), e para esse propósito a maneira como vivemos em comunidade, reconciliados em Cristo e entre os irmãos, produz o extraordinário efeito de influenciar a sociedade com os valores do Reino.
Comentando, parafraseando e aplicando Jeremias capítulo 29, a partir do versículo 4, para nós integrantes da Igreja, Timothy Keller diz: “Para vocês, Deus disse: o caminho para ganhar influência não é assumindo o poder. A influência que se ganha por meio do poder e do controle não transforma de fato a sociedade; não muda os corações. Estou conclamando vocês a adotarem uma abordagem completamente diferente. Sejam amorosos, de forma tão sacrificial, que as pessoas à sua volta, que não creem naquilo em que vocês creem, logo não serão capazes de imaginar o lugar sem a presença de vocês. Elas passarão a confiar em vocês porque verão que não estão interessados apenas em si mesmos, mas nelas também. E quando elas voluntariamente começarem a olhar para vocês, atraídas pelo modo como servem e amam, vocês exercerão verdadeira influência. Será uma influência que outros atribuem a vocês, e não que vocês tenham tomado de outros”. (4)
(1) Leeman, Jonatham. Por que se enfurecem as nações, 1ª ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, Brasil 2022, p. 156.
(2) Leeman, Jonatham. Por que se enfurecem as nações, 1ª ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, Brasil 2022, p. 156/157.
(3) Sweet, Leonard/Viola, Frank. Manifesto Jesus. São Paulo, Garimpo Editorial, 2015, p. 130.
(4) Keller, Timothy. A cruz do Rei. São Paulo, Edições Vida Nova, 2016, p. 176
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