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Por que a pregação dele é assim?

GIBSON, Scott M. & KIM, Matthew D. Homilética & Hermenêutica – quatro visões sobre a pregação hoje. Tradução: Fernanda Souza. RJ: Central Gospel, 2024, 190p. Título original: Homiletics and Hermeneutics Four Views on Preaching Today.

 

Scott M. Gibson e Matthew D. Kim, expoentes mundiais da homilética, são os editores da obra “Homilética e Hermenêutica - quatro visões sobre a pregação hoje”. Além de experientes pregadores da Bíblia, Scott e Mattew são renomados pesquisadores, professores e escritores no campo da teologia homilética. O primeiro, Dr. Scott é DPhil pela Universidade de Oxford é o titular da Cátedra de Pregação e diretor do programa de doutorado em pregação em um relevante seminário, no Texas (EUA). O segundo nome, Dr. Matthew é PhD pela Universidade de Edinburgh, atuando como professor de pregação e liderança pastoral e já presidiu a Evangelical Homiletcs Society.

 

Não é um livro sobre metodologia propriamente dita, com um passo a passo de como preparar um sermão ou a explicação de cada elemento de um sermão bíblico. Esse livro é sobre “descobrir as pressuposições teológicas das abordagens para a pregação”, ou seja, “explorar a hermenêutica que está por trás da teologia de pregação do preletor” (p.11). Nesse sentido, os editores escolheram quatro abordagens hermenêuticas e seus respectivos representantes: Histórico-Redentiva (Bryan Chapell), Cristoicônica (Abraham Kuruvilla), Teocêntrica (Kenneth Langley) e Lei - Evangelho (Paul Scott Wilsson).

 

No capítulo 1, lemos a descrição e defesa da visão Histórico-redentiva, que, dizendo de modo resumido, destaca que “uma passagem retém seu foco cristocêntrico não porque o pregador encontra uma maneira engenhosa de encaixar uma referência à pessoa ou obra de Jesus na mensagem, mas porque o sermão identifica uma função que o texto cumpre no modo legítimo no grande drama do plano divino” (p. 26). Usando uma metáfora para explicar essa visão hermenêutica, Chappell diz que o pregador fará uso da “lupa do evangelho” (p.32), fazendo perguntas adequadas a uma passagem bíblica a ser pregada.

 

A visão Cristoicônica é exposta de modo criativo, profundo e didático no capítulo 2, pelo professor Abraham Kuruvilla. O ponto crucial do problema hermenêutico, diz o autor, “é a passagem do outrora do texto ao agora do público” (p. 62). Ele pergunta: “Como devemos ler o texto para fins de pregação e aplicação?”. A sua resposta é dada com exemplos marcantes ao mostrar como pregar nas passagens de I Sm 15 e Gn 22.

 

Mas o que é a chamada interpretação Cristoicônica? É o modo de interpretar as passagens bíblicas “que leve em consideração os detalhes sutis das perícopes e que também as leia sob o ponto de vista cristológico... Pois é a vontade de Deus alinhar Seu povo à imagem de seu Filho: interpretação cristoicônica” (p. 77, 81).  Dr. Kuruvilla propõe uma exegese teológica que, segundo ele, “privilegie o texto, uma pesquisa dirigida que discirna e sintetize pistas textuais para alcançar a teologia pericopal (ou seja, de cada perícope)” (p. 75).

 

No capítulo três, lemos acerca da visão Teocêntrica, habilmente explanada pelo Dr. Kenneth Langley, que recebe o leitor, na porta de entrada do seu texto, com a frase: “A pregação deve ser centrada em Deus porque Deus é centrado em Deus e deseja que sejamos centrados em Deus em todo o que fazemos” (p. 101). O texto Langley é um oásis em meio ao cenário árido que nos rodeia de tantos pregadores e pregações que são antropocêntricos e usam o texto bíblico somente como trampolins retóricos para falar o que desejam, distanciando-se do perfil daqueles homens que podem vão ao púlpito, com temor e tremor e podem, realmente, declarar “assim diz o Senhor”.

 

A quarta visão hermenêutica aplicada a homilética é a chamada Lei-Evangelho, elucidada pelo respeitado professor de pregação Dr. Paull Scott Wilson, bastante conhecido na teologia homilética por sua abordagem das “Quatro páginas do sermão”. Já procurando desfazer o mal-entendido comum sobre a terminologia da sua visão interpretativa, Dr. Wilson dedica um espaço considerável para explicar o que não significa a visão bifocal que usa, e afirma preferir os termos “problema e graça” como os dois “gumes que a Palavra de Deus tem: ela tanto condena quanto liberta, prende e emancipa” (p.139). Partindo dessa premissa teológica, ele esquematiza o que considera uma organização básica para qualquer sermão, sempre voltando ao duplo tema “lei-evangelho” e o seu uso homilético na pregação.

           

Após cada capítulo, os leitores são presenteados com uma análise crítica da visão exposta pelos outros escritores. Nesse momento, o leitor estará diante de uma riquíssima fonte de conhecimento para perceber as nuances hermenêuticas e teológicas que estão alicerçando o pensamento e a metodologia de muitas pregações hoje. Apreciei em grande medida, a visão Cristoicônica, representada pelo texto do Dr. Kuruvilla, tanto por sua ênfase, de fato, numa hermenêutica e homilética que focam, o texto bíblico, em seu contexto imediato e dentro do plano redentor, quanto da relevância dos detalhes textuais para chegarmos ao que Deus falou e quer que seja a ênfase na aplicação do sermão bíblico hoje. Além disso, considero os argumentos oferecidos pelo professor Kuruvilla, os mais convincentes quando avalia as fraquezas, forças ou até “falhas”, das demais abordagens apresentadas no livro.

 

A explicação de cada visão e as críticas feitas por cada um as demais abordagens apresentadas nas sessões “respostas”, certamente alcançam um dos objetivos dos editores, a saber, levar os leitores a familiarizarem-se com posições hermenêuticas distintas, de modo a equipar melhor pregadores e estudiosos da Palavra para “ministrar sermões com sensibilidade hermenêutica e apreço pela tradição hermenêutica dos outros” (p.13).

 

Os editores escalaram e conseguiram colocar em campo um timaço da teoria Homilética, nessa publicação. Cada um dos quatro escritores, mostra um estilho próprio de abordar o texto bíblico visando a pregação, com habilidades específicas, que no fim, inspiram o leitor a examinar sua própria capacidade de manusear, interpretar e pregar o texto bíblico, aprendendo com aqueles que já tem evidenciado bastante experiência e trajetória bem-sucedida na arte e ciência da interpretação, exposição e aplicação da Bíblia.

 

Estou ciente de que a obra não se propôs a ser um manual de pregação em si, contudo, penso que ganharíamos ainda mais se os editores tivessem inserido, um ou mais esboços integrais de pregações de cada um dos escritores, como demonstração mais detalhada de como funciona as visões hermenêuticas ali apresentadas.

 

Por fim, não resta dúvidas de que essa obra, ao longo de cada página, revela pregadores que são servos de Deus, comprometidos com a pregação fiel da sã doutrina bíblica, inspirando pregadores iniciantes e experientes a serem conscientes da(s) perspectiva(s) hermenêuticas que regem sua exegese e compreensão da Palavra de Deus, inspirando-os a buscarem o padrão de “obreiros aprovados... que manejam bem a Palavra da verdade” (II Tm 2.15), desenvolvendo habilidades de usar os fundamentos bíblicos, teológico, homilético e aplicacional, tão bem descritos e exemplificados pelas quatro visões hermenêuticas em debate.

 

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Pr. Charles Nascimento

Pastor na IBR Central de Mossoró, RN

Mestre em exposição bíblica (Seminário Batista Logos, SP)

Autor dos livros: “Esperança no sertão - uma biografia de Carlos Mateus”

 “O uso da imaginação na pregação”.

 

 

 

 

 

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