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Foto do escritorFabiano Almeida

A penitencia não é um instrumento divino

O findar do mês de junho e o início do mês de julho testemunham um movimento peculiar na região metropolitana de Goiânia, quando uma conhecida romaria atrai milhares de pessoas que percorrem quilômetros a pé, em noites frias e dias quentes, a fim de demonstrar sua fé. A crença que o sacrifício dispendido nesta ocasião lhes concederá algum mérito, assim como que poderá pagar algum favor alcançado, leva diversas destas pessoas a se submeter a atos mais pesarosos que a própria caminhada, crendo firmemente que estão agradando Deus desta forma. A penitência é vista por estas pessoas como um ato sacrificial e necessário em sua jornada espiritual. Em um tempo onde qualquer julgamento de mérito é visto como uma ação extremista, é bom que que façamos uma sincera inquirição: como a Bíblia julga essas coisas? Qual a origem da prática da penitência? Há algum proveito espiritual em afligir-se fisicamente? É a penitência um instrumento capaz de vencer o pecado em nós?


É importante reconhecer o que representa a prática penitencial dentro da doutrina romanista. A penitência é indicada com base na crença que sua prática é capaz de enfraquecer o poder do pecado no corpo, mortificando seus sentidos e capacitando a pessoa a viver em uma comunhão mais íntima com Deus. O falecido papa João Paulo 2 revelou fazer uso de um instrumento de penitência chamado cilício, um objeto utilizado para incomodar a pele, podendo ser constituído por tecidos ásperos, sacos de estopa ou mesmo pequenos ferros que, longe de perfurar a pele, causam certo incômodo. A prática do uso do cilício é assim descrita na doutrina romanista “Este é o sentido do seu uso: a mortificação, isto é, buscar ordenar as coisas dentro de si mesmo, já que, pelo pecado original, nossa carne corrompida quer governar a nossa alma”. Na doutrina romanista a penitência se encontra dentro do chamado sacramento do perdão, que exige a confissão perante um representante da igreja, o recebimento do perdão e da penitência, ou satisfação, que visa o restabelecimento dos danos do pecado praticado, de tal forma que a penitência desempenha a função de perdoar os pecados do indivíduo, assim alcançando a absolvição ou o perdão de Deus, sendo assim exposta na doutrina romanista “A penitência que o confessor impõe deve ter em conta a situação pessoal do penitente e procurar o seu bem espiritual. Deve corresponder, quanto possível, à gravidade e natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oração, num donativo, nas obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e, sobretudo, na aceitação paciente da cruz que temos de levar”. A doutrina romanista também prescreve a prática de penitência em períodos específicos a fim de combater pecados específicos. No período da quaresma o romanismo ensina e estimula a pratica do jejum, a oração e a esmola, incentivando estas três formas de penitência como um remédio para o combate das doenças espirituais, sendo que o jejum auxilia no combate à gula, a oração no combate ao orgulho e à soberba, e a esmola no combate à avareza. Porém, a face mais conhecida da prática de penitências visa pedir ou agradecer por graças alcançadas através de romarias e peregrinações. Ao salvo em Cristo basta reconhecer que a prática de penitências não é uma doutrina bíblica e somente foi acrescentada aos ensinos romanistas quinze séculos após o surgimento do cristianismo. Não existe nenhum registro que a igreja cristã primitiva tenha recebido ou praticado qualquer doutrina que reconheça a penitência como uma prática estabelecida pelo Senhor Jesus Cristo. O chamado sacramento da penitência faz parte do conjunto de sete sacramentos do romanismo, que somente foram reconhecidos e acrescentados a doutrina romanista após a sétima sessão do concílio de Trento em 1547. Nos primeiros 1500 anos da era cristã não se ouviu falar em qualquer doutrina de penitência, sendo isto uma inovação criada pelo sistema romanista, totalmente independente do que a Bíblia ensina. Infelizmente temos que reconhecer que resquícios destas práticas ainda podem persistir na mente e no coração dos salvos em Cristo devido ao longo tempo em que permaneceram expostos a estes falsos ensinos antes de conhecerem a salvação, aos ensinos heréticos de seitas neopentecostais, largamente difundidas em nossos dias, como também a inclinação de nosso coração pecaminoso, que sempre busca algum mérito pelo qual possa se gloriar.


É dever dos salvos em Cristo atentar diligentemente ao ensino das Escrituras no que diz respeito as prerrogativas defendidas pelo romanismo quanto a prática da penitência. Iniciemos pela verdade bíblica que em parte alguma das Escrituras há qualquer vestígio do ensino que a penitência possui o poder de perdoar pecados, como ensina a doutrina romanista “O Sacramento da Penitência é também chamado de Confissão e foi instituído por Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos depois do Batismo. Foi instituído por Cristo no dia da sua Ressurreição quando, depois de entrar no cenáculo, deu solenemente aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados”. O texto citado aqui é João.20.22,23, que nos diz “E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos”. Tendo por base esses versos o romanismo ensina que seus sacerdotes possuem o poder e autoridade de perdoar pecados, mediante a confissão e a declaração “Está perdoado”, após o que eles podem também determinar certas penitências a fim de reparar os danos do pecado cometido. A resposta a esta heresia pode ser respondida da seguinte forma: o que os discípulos saíram fazendo após Jesus lhes ter dito isto? A resposta está em Atos 2.38 “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, em remissão de pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”. Eles saíram proclamando a salvação em Jesus Cristo, o perdão dos pecados por meio do sangue de Jesus, sem acrescentar nenhuma prática a esta verdade.


O grande erro da doutrina romanista neste quesito está no fato que eles reconhecem a necessidade da morte de Cristo, porém não a sua suficiência, como estabelecido em Hebreus 7.26 a 28 “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo”. Também em Hebreus 9.24 a 28 encontramos a mesma verdade exposta “Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus; Nem também para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio; De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo. E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para levar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação”. Jesus Cristo ofereceu um único sacrifício, suficiente para todos. Aos salvos em Cristo é importante afirmar que a base do perdão divino reside totalmente sobre o derramamento do sangue de Cristo, de tal forma que ninguém pode esperar perdão da parte de Deus a não ser que confie em Jesus como seu único e suficiente salvador. É inútil clamar pelo perdão de Deus fora de Cristo, uma vez que aquele que rejeita a Jesus Cristo rejeita a salvação e o Salvador e jamais receberá perdão. Ao lançar sua fé em Jesus como salvador Deus declara justo o pecador, pois seu perdão é um ato judicial. Sendo perdoado uma vez ele está perdoado por toda a eternidade e o perdoado nunca mais ouvirá palavra alguma sobre seus pecados, como declara o apóstolo Paulo em Colossenses 1.14 “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados”.


Por fim, é preciso novamente reconhecer que os anos vividos debaixo do engano romanista por vezes mantém sequelas profundas na alma mesmo daquele que é salvo em Cristo. Infelizmente, não é incomum encontrar “evangélicos de alma católica”, como bem descreveu um conhecido teólogo brasileiro. Dentre as práticas cristãs, creio que a mais suscetível a uma interpretação errônea neste sentido seja a prática do jejum, passível de ser realizada tendo mais o sentido de penitência do que o real exercício espiritual biblicamente recomendado. Observe como até mesmo o povo judeu, influenciado também pelas práticas pagãs, acabou por desviar-se nesta questão, como descrito em Isaías 58.2 a 5 “Todavia me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos, como um povo que pratica justiça, e não deixa o direito do seu Deus; perguntam-me pelos direitos da justiça, e têm prazer em se chegarem a Deus, Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento, e requereis todo o vosso trabalho. Eis que para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo; não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto. Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?”. Em seguida a esta reprimenda o Senhor lhes diz o que deseja presenciar em meio a seu povo “Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?”. Da mesma forma, foi necessário que o Senhor Jesus corrigisse a enganosa pretensão dos religiosos de seu tempo, demonstrando que não havia legação nenhuma entre o jejum biblicamente recomendado e aquilo que eles praticavam “E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente” (Mateus 6.16 a 18). Alguns destes homens que Jesus cita, além de desfigurarem seus rostos, colocavam cinzas sobre suas cabeças. Eles pareciam miseráveis e transmitiam uma imagem de quem estava sofrendo por Deus. O ensino de Jesus estabelece que de forma alguma o jejum praticado de forma bíblica deve resultar no prejuízo físico dos filhos de Deus.


A penitência não é um instrumento divino, e nem deve ser praticado pelo salvo em Cristo como uma suposta demonstração de sua espiritualidade. Se desejamos agradar ao nosso Deus devemos faze-lo segundo revelado em sua suficiente palavra “Porque a minha mão fez todas estas coisas, e assim todas elas foram feitas, diz o Senhor; mas para esse olharei, para o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra” (Isaías 66.2).


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Fabiano F. Almeida

Pastor no Templo Batista Maranata em Goiânia GO

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