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Depois de mortos, ainda falam!

Bobby Powell e Jaime Rose

Esse texto foi escrito pelo falecido missionário estadunidense, Pr. Jaime William Rose, sobre seu colega de ministério, o também missionário estadunidense, Pr. Bobby Joe Powell. Ambos já faleceram e nós decidimos publicar aqui como matéria, relembrando a bênção que ambos foram para a obra missionária em nosso país, mostrando que, mesmo depois de terem partido para estar com o Senhor, continuam falando-nos, a exemplo do que foi dito sobre Abel em Hebreus 11.4.

Bobby Joe Powell

Por ocasião do aniversário de 55 anos da Igreja Batista Independente de Orlândia SP, esteve pregando nas conferências comemorativas nos dias 15 a 17 de julho de 2022, o irmão Duke Powell, filho do fundador da igreja, missionário Bobby Joe Powell. Duke reside em Greenville, Carolina do Sul nos EUA.

Família Powell

O missionário Bobby Joe Powell saiu dos EUA com sua esposa Frances Claretta Hall Powell e os filhos Fred e Duke (O terceiro filho, Ha­milton, nasceu no Brasil), enviados pela South Ame­rican Worls Missions no dia 17 de dezembro de 1963. Permaneceram um tempo na escola de línguas estu­dando o português em São Paulo e depois foram para Batatais SP, trabalhar com os missionários Jaime William Rose e sua esposa Nancy fazendo adaptação e definindo o local onde iniciar uma igreja.

Em 1967, a família Powell mudou-se para Orlândia e a igreja teve início na própria residência do missionário. Mais tarde, no dia 13 de julho do mes­mo ano aconteceu a orga­nização como Igreja Batista Independente de Orlândia. Em 1971, Pr. Bobby teve que viajar aos EUA para uma cirurgia e depois retornou ao Brasil. Mas não pôde permanecer muito tempo e, no dia 25 de novembro de 1972 a famí­lia retornou definitivamente para os EUA e o Pr. Bobby foi recolhido à glória pelo Se­nhor no dia 13 de junho de 1973 com apenas 43 anos de idade (1930-1973).

Na sequência, o texto escrito pelo saudoso missionário Pr. James William Rose, irmão, amigo e colega do Pr. Bobby:

O homem que não podia ser parado

Para a maioria das pessoas, os adjetivos “sacrifício” e “compromisso” são sinônimos de missionário. Enquanto isso normalmente é verdade, há alguns que parecem levar o sacrifício e o compromisso um passo adiante. Esse é o caso de um querido amigo meu que já foi para a Casa do Pai Celestial, para estar com o Senhor Jesus: Missionário Pr. Bobby Joe Powell.

Ele era o tipo de homem, como o apóstolo Paulo, que após dificuldades não desistia. Ele simplesmente não podia ser parado! Foi um dos muitos da minha igreja local dos EUA que veio orar conosco e se despedir de nós no aeroporto quando embarcamos para o Brasil pela primeira vez.

Alguns meses se passaram, e o irmão Bobby me escreveu contando que também sentia o chamado de Deus para ser missionário no Brasil, assim que terminasse a Faculdade Bíblica. Nós o encorajamos para que viesse e quando ele terminou seus estudos imediatamente levantou o seu sustento financeiro e em pouco tempo estávamos indo para o aeroporto em São Paulo para buscá-lo com sua família para começar seu ministério no Brasil!

Nós os ajudamos a se matricularem na escola de língua portuguesa e se instalarem em uma pequena casa em São Paulo. Tudo foi emoção quando eles começaram seu ministério aqui no Brasil. No entanto, o aprendizado do português provaria ser extremamente desafiador para ele. Mesmo tendo se saído bem na faculdade nos EUA, o irmão Bobby não conseguia entender por que seus estudos eram tão difíceis no aprendizado do português.

Ele começou a ter dores de cabeça frequentes e a concentração era difícil. Ao concluir o curso de português, ele teve que admitir que seu aprendizado da língua não foi o suficiente para ministrar sozinho. Ele me ligou explicando a situação e eu o convidei para que ele e sua família viessem nos ajudar com a implantação da nossa igreja que se iniciava na cidade de Batatais SP.

Ficamos entusiasmados, novamente, ao vermos nossas famílias ministrando juntas. Entretanto, as dores de cabeça do Pastor Bobby voltavam de tempos em tempos e eram muito severas. Mesmo que isso não diminuísse sua determinação de pregar o Evangelho e, consequentemente, obter mais experiência no uso e prática do português, a situação era preocupante. Muitas vezes nos reuníamos de manhã, orávamos juntos, enchíamos nossas sacolas com folhetos e Bíblias e passávamos o dia inteiro divulgando a mensagem de salvação em Jesus Cristo.

A essa altura, suas dores de cabeça continuavam frequentes, a ponto de muitas vezes deixá-lo tão doente que mal conseguia se levantar da cama. Mas ele estava determinado a divulgar o Evangelho e saia mesmo assim. Ele não podia ser parado!

Certo dia, eu e ele estávamos fazendo visitas, quando de-repente ele caiu na minha frente. Corri para atende-lo pois ainda estava consciente, mas estava muito abatido. Ao ser interroga-lo, ele confessou que suas dores de cabeça estavam ficando incrivelmente intensas e que agora estava tendo dificuldade em manter o equilíbrio. Mesmo assim, naquele dia ele conseguiu pregar e testemunhar, deixando-me surpreso.

Nós o levamos para Ribeirão Preto para uma consulta médica. Após fazer os devidos exames, o médico disse que o Pr Bobby precisava ser imediatamente transferido para um hospital na capital para um especialista neurocirurgião, pois ele tinha um grande tumor do tamanho do punho de uma mulher, crescendo na parte de trás de seu cérebro. Foi então que percebemos porque havia sido tão difícil para ele o aprendizado do português e, também as fortes e constantes dores de cabeça!

Imediatamente ele foi levado para São Paulo, uma cirúrgica foi realizada e o tumor foi removido. Embora os médicos tenham afirmado que a operação havia sido bem-sucedida, eles disseram que ele provavelmente teria apenas seis meses de vida e que deveria voltar para os Estados Unidos para ficar com a família naquilo que seria seus últimos meses.

Foi uma reunião sombria aquela no aeroporto em São Paulo na sua partida com a família de volta para os Estados Unidos. Muitos missionários foram para orar pelo Pastor Bobby. Todos se amontoaram em torno de sua cadeira de rodas, pedindo ao Senhor que lhe desse forças suficientes para ver sua família na América mais uma vez. O Senhor atendeu àquele pedido e respondeu às orações muito mais do que qualquer um esperava. O Pastor Bobby recuperou suas forças e, embora limitado fisicamente, seu grande desejo era retornar para ser missionário no Brasil.

E ele retornou ao Brasil aqui permanecendo por mais quatro milagrosos anos. Ao invés de ir para Batatais, mudou-se para a cidade de Orlândia onde iniciou com sua família, a Igreja Batista Independente. Sabendo que, provavelmente não teria muito tempo de vida para ver o avanço do trabalho, ele e sua esposa concordaram em vender antecipadamente sua apólice de seguro de vida e usar o dinheiro para construir o prédio da igreja que estava sendo iniciada. Durante todo aquele tempo, eles não apenas supervisionaram até o final o projeto de construção, como também realizaram cultos nas vilas e bairros de Orlândia. Através de um Programa no rádio, sua voz levou o Evangelho de Jesus por toda área, para todos os lugares que sua força limitada não podia levá-lo. Ele simplesmente não podia ser parado!

O destaque no final de seu ministério de quatro anos em Orlândia foi a ordenação do pastor brasileiro que ele vinha treinando desde que o mesmo se converteu. Fiquei feliz em ser convidado a pregar a mensagem no culto de ordenação, mas fiquei muito preocupado quando notei o Pastor Bobby cambaleando por várias vezes quando se levantou durante o culto.

Nosso maior medo foi confirmado pouco tempo depois, quando um médico diagnosticou que o tumor cerebral havia retornado e estava mais grave do que nunca. Apesar da dor de cabeça, Pastor Bobby nunca reclamou e, mesmo devagarinho, continuou seguindo em frente, até que um leve derrame que sofreu, o limitou ainda mais.

Era o momento de deixar o Brasil, talvez pela última vez. Muitas lágrimas foram derramadas quando a família embarcou deixando o Brasil. Todos sabiam o significado daquele momento. Pastor Bobby não conseguia nem subir os degraus do avião sozinho. Teve que ser ajudado durante todo o tempo por seu filho mais velho. No topo da escada, antes de entrar no avião, ele se virou para mim e levantou a mão acenando com o sinal da vitória. Pela Graça de Deus, bem como de sua perseverança pessoal, aquele era de fato um momento de vitória!

Os próximos meses nos Estados Unidos foram gastos dentro e fora do hospital, pregando em todas as oportunidades que ele podia. Muitas vezes ele estava tão fraco que tinha que ser levado ao púlpito por seu filho. Então, ele ficava segurando-se no púlpito para se manter ereto e implorava: “Minha lâmpada está prestes a queimar por completo. Há alguém aqui que vai pegá-la e levá-la de volta para o Brasil? ”

Sua fala piorou, sendo gravemente afetada pelo derrame, e sua visão ficou ainda mais prejudicada, limitando o que ele podia fazer por si mesmo. No entanto, seu coração ainda estava em chamas pelo Brasil. Ele ainda não podia ser parado!

Quando durante aquele período eu tive que regressar com a minha família para os Estados Unidos, nós nos víamos com frequência. Se eu fosse pregar em qualquer lugar dentro de um raio de 300 quilômetros da cidade onde estava a sua pequena casa, ele pedia alguém para levá-lo para me ouvir pregar. Lembro-me do último culto que o vi. Ele parecia tão doente e fraco. Com aquele tapa-olho nos óculos, o rosto caído devido ao derrame e agora em uma cadeira de rodas. Ele era apenas uma casca do homem que eu conhecia, mas seu coração, cheio de amor pelo Brasil e pelos brasileiros, ainda era visível para todos. Dei-lhe a oportunidade de falar à congregação naquela noite. Com lágrimas escorrendo pelos olhos, ele tentou formar algumas frases, mas ninguém conseguia entendê-lo muito bem. No entanto, eu o entendia claramente. Mais do que isso: Eu conhecia seu coração. Então, traduzi para a congregação o que ele disse aquela noite:

“Minha lâmpada está prestes a queimar. Alguém aqui vai pegá-la e levá-la de volta ao Brasil? ” Ele olhou para mim com aqueles olhos cheios de lágrimas e sorriu o melhor que pôde ao mesmo tempo. Eu tinha dito exatamente as mesmas palavras que ele queria que todos ali ouvissem.

Foram apenas algumas poucas semanas depois, que recebi a ligação de que meu amigo e irmão, Pastor Bobby Joe Powell estava no paraíso. Pregar em seu funeral foi muito difícil para mim naquele dia, mas eu conhecia seu coração. A igreja estava completamente cheia. Fala-se que havia mais de 1.500 pessoas presentes naquele culto memorial. Dezenas dos pastores que apoiaram seu ministério durante anos encheram as primeiras filas dos bancos da Igreja, identificados como os acompanhantes honorários do cortejo fúnebre. Todos os presentes reconheceram o sacrifício e o compromisso evidentes na vida do saudoso missionário Pastor Bobby Powell.

Na conclusão das mensagens que foram pregadas naquele dia, muitos se renderam ao serviço missionário e ainda estão no campo missionário servindo a Deus até hoje em todo o mundo. Tudo por causa de um homem que, pela graça de Deus, não podia ser parado!

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