Entre limites e graça: Uma transformação do pequeno ao pleno

É essencial que alguém estude e compreenda a matemática para que tenhamos o necessário e o suficiente no mundo. Mas a maioria de nós pode viver “normalmente”, mesmo sem entender toda a abstração que nela existe. Não é preciso termos noções mais aprofundadas, por exemplo, do infinito.

Mas pense que, quanto mais conseguimos olhar para o Alto, mais compreendemos o poder e a grandiosidade do Deus criador, mais longe conseguimos ir e sonhar, e ser usados para cumprir o propósito para o qual fomos criados, neste mundo que não permanecerá. Existe uma frase de um professor chamado Charles Madison Sarratt que costumo adaptar e usar nas minhas aulas de Cálculo: “Muitas pessoas honestas no mundo reprovariam em uma prova de Cálculo, inclusive a minha mãe, mas nenhuma pessoa honesta no mundo reprovaria em uma prova de honestidade.” Sim, o Cálculo não é o que temos de mais importante no mundo.

O que é o infinito? Isso é mais simples de ser respondido por uma criança do que por um matemático, pois o que a maioria delas diria é que o infinito nunca acaba, que não tem fim, que é eterno; é como os números que não importa em qual pensamos, sempre é possível encontrar um ainda maior.

Brincar de pega-pega, por horas e horas, em um grande quintal cheio de árvores, e dando voltas por todas elas, pode também parecer infinito para as crianças, mas assim como a infância é finita, a vida com todas as suas partes também tem fim. As sequências de brincadeiras da infância e as sequências de dores da alma, podem até convergir, mas terminarão.

O Cálculo é a ponte entre o finito e o infinito; ele nos permite lidar com ideias como o infinitamente pequeno e o infinitamente grande sem cair em paradoxos ou contradições. Toda vez que escrevemos  (o limite de uma função quando x se aproxima de a) estamos analisando o comportamento de uma função à medida que nos aproximamos infinitamente de um ponto, mas sem necessariamente atingi-lo.

O infinito é algo que não precisamos alcançar, mas algo que devemos seguir ou perseguir. Que devemos caminhar com Fé em sua direção.

A derivada de uma função  a qual chamamos de “f linha de x”, existe quando este limite que a define existe e é finito. Ela representa a razão de variação da função em um intervalo infinitamente pequeno, onde trabalhamos com a ideia de um "infinitésimo", uma quantidade que tende a zero sem nunca ser exatamente zero.

É possível que o nosso eu, com seus desejos e vontades, diminua cada vez mais, sem ser anulado por completo, para que Cristo cresça em nós. Podemos permitir que nosso eu se torne cada vez menor, como um limite que tende a zero, para que a graça de Deus seja plena em nós.

E a integral definida  pode ser vista como a soma de infinitos retângulos de largura infinitesimal. Isto é, uma soma com infinitos termos, cada um infinitamente pequeno. Neste caso, o infinito aparece como uma quantidade de parcelas numa soma que converge para um valor finito, que é o valor da área sob a curva definida pelo gráfico da função.

Há um destino certo. A integral reúne pequenas partes aparentemente insignificantes, e as transforma em algo completo. Assim também Deus junta cada detalhe da nossa vida: injustiças, desamparos, dores, alegrias, quedas e recomeços, para formar algo inteiro, belo e eterno em Cristo. Por amor, Ele somará cada fragmento de quem realmente somos até que sejamos completos Nele (Romanos 8.28, Filipenses 1.6, Colossenses 2.10).

O infinito representa aquilo que segue para sempre, com uma direção e um propósito. Assim também é a nossa vida: ela não será aniquilada, mas seguirá rumo a uma eternidade, convergindo para Cristo ou para uma eterna separação dele.

É possível estarmos tão próximo de Deus quanto Ele gostaria, sem que alcancemos uma perfeição plena nesta vida que tem limite e é como uma sombra que logo desaparecerá. Podemos diminuir gradualmente, não sendo anulados por completo, mas cedendo espaço para que Cristo cresça em nós. Esse processo de rendição e transformação pode até não parecer contínuo, infinitesimal, mas é necessário e decisivo. Cada um tem uma história cheia de lágrimas e alegrias, mas, mesmo fragmentada, ela pode ser integrada pela graça e misericórdia de Deus em Seus propósitos eternos.

A infinidade de Deus e da Salvação é uma realidade maior do que podemos medir ou imaginar; é um infinito que nos chama para muito além de nós mesmos. Assim como o cálculo nos ensina a lidar com o infinito, é pela Fé que podemos confiar no infinito amor de Deus derramado na cruz  que, entre limites e Graça, transforma o pequeno em pleno, o fragmentado em completo, até que sejamos salvos por inteiro. Deus abençoe.

________________________________________

Professor Alessandro Monteiro

Manaus (AM)