O dia em que o sol parou
- Luana Batista
- há 3 dias
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Não sei se você já teve a oportunidade de dar aulas na EBD - Escola Bíblica Dominical para a classe dos pequeninos ou na salinha do culto à noite. Eu já fiz isso muitas vezes! Há mais de 20 (vinte) anos tenho a divertida experiência de viver esses momentos; olhar para aqueles olhinhos atentos quando mergulhamos no imaginário para falar de muralhas ruindo, anjos fechando a boca de leões, fornalhas ardentes que não queimam, peixe que engole e vomita homem, e por aí vai.
Com toda habilidade didática e acadêmica de informar verdades absolutas à luz da Bíblia com o toque lúdico das histórias infantis, pude contribuir para o aprendizado de muitos dos relatos dos heróis do Antigo e Novo Testamentos. Também sofri, como muitas professoras, me perguntando: "que história conto dessa vez que eles ainda não ouviram?"
Se você for mãe de uma ou mais dessas crianças, talvez se identifique com a situação inusitada que vivi achando que não poderia mais ser surpreendida depois de tantos anos; fiquei maravilhada ao saber que os pequenos, (desde que nasceram frequentam a igreja) ainda não tinham ouvido a história de Josué e a batalha contra os cinco reis dos amorreus (Josué 10.1-15).
Me preparei para a aula e com todo entusiasmo e empolgação comecei a história assim: "Hoje vocês vão ouvir a história do dia em que o sol parou!" Apenas tinha fechado a boca quando minha filha mais nova Marina (oito anos) me interrompeu falando: "Mamãe, essa história não está nada certa! O sol é parado, a terra é que gira ao redor dele".
Bem, já tinha contado essa história diversas vezes e compreendo os movimentos de rotação e translação da Terra; também sei que o universo está em constante movimento (inclusive o sol), mas nunca tinha pensado que minha frase de efeito para chamar a atenção para o evento em questão poderia causar algum prejuízo quanto a credibilidade do texto bíblico.
Respirei fundo e respondi: "Você está certa filha! Mas Josué não sabia disso, no tempo dele, não havia telescópios ou astronautas, o sistema solar e a Via Láctea ainda não haviam sido desvendados. Quando ele olhava para o céu, da perspectiva dele, ele via o sol e a lua se moverem". Ao que ela me respondeu: "Hum... Pers... Perpec... Esse negócio, entendi, pode continuar...".
Minha arrogância me levou a subestimar o tempo, a tecnologia, a geração Alpha; a Marina, embora curiosa e questionadora, não foi desrespeitosa. Seu questionamento foi sagaz e pertinente para uma mente fervilhante e ávida num mundo de conhecimento acessível e altamente incrédulo.
Josué pensou estar já experiente no trato com pessoas; teve um treinamento de aproximadamente 40 (quarenta) anos ao lado de Moisés, já tinha tomado Jericó e Ai, gostou da ideia de que sua fama tivesse percorrido longas distâncias a ponto de atingir povos além das suas fronteiras; sucumbiu assim ao teatro dos gibeonitas e ficou refém de suas batalhas.
O líder do povo de Israel achou que poderia tomar sábias decisões sem consultar Deus; ficando preso por suas palavras de aliança, teve que socorrer Gibeom contra os reis dos amorreus. Embora falhos e pequenos, Deus permanece fiel e poderoso! Quando Josué se viu em aperto pôde desfrutar do agir e do cuidado desse Deus que está disposto a nos socorrer mesmo quando nos colocamos em situações adversas, ou inusitadas, por causa da nossa negligência para com Ele.
A oração ousada de Josué demonstra sua fé e confiança restauradas na Pessoa certa: em Deus. O valente líder recolocou os olhos na direção correta compreendendo com clareza a extensão do poder do Seu Senhor: Aquele que podia até mesmo controlar o tempo e o espaço. Que convicção Josué teve ao olhar para os céus e determinar a paralisação do dia naquele exato momento até que pudesse se vingar de todos os seus inimigos.
Embora tenha sido surpreendida no início da minha aula, nunca duvidei da veracidade e exatidão da Palavra de Deus. Convicta do Deus que controla os dias e as estações, pude responder com transparência aquela pergunta tão óbvia aos ouvidos atentos. Não obstante, fui alertada pelo Espírito quanto a necessidade de estar mais preparada para esse mundo novo, de tantas informações dispostas como um banquete para quem quiser se servir.
O homem tem ultrapassado fronteiras, descoberto mundos, criado inteligência artificial; e, embora tente desacreditar a Bíblia, ele vez e outra tem que se render à sua inerrância e fidelidade. Temos a verdade em nossas mãos para ensinar e proteger com coragem, sem se deixar sufocar pelo conhecimento superficial e arrogante do homem.
Hoje, como em tempos passados, precisamos defender com propriedade a veracidade e a suficiência das Escrituras; em uma época que nega a existência de Deus, temos o dever de traçar limites claros e inegociáveis da nossa fé. Muitas vezes isso pode soar como estupidez ou irracionalidade tal como um dilúvio para um mundo que nunca tinha visto chuva! Entretanto, essa defesa não pode estar acompanhada de certo desleixo; a geração dos nativos digitais não vai engolir frases de efeito sem suporte minimamente defensável.
Podemos mergulhá-los no Manancial inesgotável da ciência e profunda sabedoria e confrontá-los com uma firme certeza que enxergamos com os olhos da fé mesmo sem que possamos comprovar de maneira palpável (Hebreus 11.1). Não importa quantas galáxias o homem descubra ou se espante com a perfeição da sequência de Fibonacci, conhecemos o início e o fim e isso nunca mudará.
É incrível pensar que o poder, o agir e a graça de Deus não estão limitados aos nossos pensamentos ou ações; que, independentemente da nossa capacidade em entender o funcionamento do cosmos, o domínio e o governo de todas as coisas estão em Suas mãos. Que, apesar da nossa visão limitada a respeito das intenções humanas ou da expertise de uma criança de oito anos, Deus domina o universo e nada pode fugir ao Seu controle.
Ao concluir a lição, aceitando a advertência divina me chamando a responsabilidade de me aperfeiçoar e atualizar sempre; achando que meu carão tinha sido superado, o amigo inseparável da minha pequena, o Benício, olhou para mim e falou: "Eita tia, que oração poderosa hein, o sol tá parado até hoje!! (Risos)". Que possamos defender a Palavra Viva com sabedoria, responsabilidade e firmeza.
"Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;”. (Romanos 1.20)
Luana Batista
Dourados MS
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