“O peso do gafanhoto”
Pois é, passamos pelo dia dos avôs. Ser avô e avó, “abestalha” a gente. É um amor inexplicável. Daí a bênção sobre a turma da“ algodoeira branca”. A velhice é a conscientização de que o futuro é bem menor do que o passado. É aquele tempo de lembrar muito o passado e falhar a memória com coisas atuais. Gaveta com medicamentos, receituários e bulários por toda parte. Esquecimento de tomar os remédios e, pasmem, tomar remédio errado. Eu tô nessa! Pinguei remédio do ouvido no olho. Literalmente vi estrelas!
Mas, bendito, “mas”, tem o lado positivo aos que “andam na justiça”! É que, se lhes dado fosse a oportunidade de voltarem aos dias da juventude, certamente o fariam com uma ressalva: ser jovem com a maturidade do “peso do gafanhoto” (Ec12:5)! Eu só aceitaria voltar aos 33 (ano da consagração) com a cabeça dos 76. Sem isso, voltaria a repetir os mesmos erros dos quais, hoje, lamento muito. E Deus sabe como foram muitos! Faço meu o clamor do salmista: “Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor” (Sl 25:7).
A velhice é a oportunidade de Deus para maior intimidade com o Céu. Exatamente por trazer um sentimento finalista o coração é movido ao preparo à partida com o Senhor! Vejamos biblicamente as bênçãos da velhice:
A velhice é Coroa de Honra. Veja o que diz Salomão: “Coroa de honra são os cabelos brancos, quando eles estão no caminho da justiça” (Pv 16:31). Buscamos mais semelhança com Jesus. É Deus o nosso rochedo. Nossa esperança. A velhice sem Cristo deve ser chata e humilhante.
Fé e Aventura. A vida com Deus motiva o anoso a ser cheio de “louvor, adoração e gratidão” (Sl 71). Alegria com “os filhos dos filhos”. Consolo nas ricas promessas de um “corpo de glória como o de Jesus” (1a Jo 3:2).
O peso do gafanhoto. Se a cada dia a “casinha de barro” morre, também é fato que o “homem interior se renova diariamente”. E para aqueles que, atentos à corrução da velha “casinha de barro”, sabiamente emprestam os ouvidos às repetitivas histórias do passado, nós, idosos, dedicamos “As Bem-Aventuranças” – texto anônimo adaptado:
Bem-Aventurados os que compreendem meus passos vacilantes e minhas mãos trêmulas.
Bem-Aventurados os que compreendem que meus ouvidos têm dificuldades para captar o que dizem.
Bem-aventurados os que percebem os meus olhos nublados e minhas reações lentas.
Bem-aventurados os que fecham os olhos diante do café, que por vezes entornei sobre a mesa.
Bem-aventurados os que pacientemente me ouvem, permitindo falar coisas até sem importância.
Bem-aventurados os que nunca me dizem: “Já me contou isso tantas vezes”.
Bem-aventurados os que sabem dirigir a conversa e recordações para coisas dos tempos passados.
Bem-aventurados os que me fazem sentir que sou amado e não estou abandonado.
Bem-aventurados os que veem a falência do meu corpo e me animam sobre a coroa de glória!
Bem-aventurados os que se colocam ao meu lado ajudando-me na caminhada à glória celestial.
Já de validade vencida e fortalecido no Deus da minha salvação, aguardo o dia em que terei um corpo de glória que Jesus me dará – unicamente por SUA GRAÇA INEFÁVEL!