Tecnologia e Missões: Um chamado à sabedoria cristã na era digital
- Carlos Moraes

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Vivemos um tempo em que o avanço tecnológico parece ultrapassar a própria capacidade humana de compreendê-lo. A cada novo dia, o que antes era ficção científica torna-se parte da realidade cotidiana. Inteligência artificial, biotecnologia, robótica e comunicação digital remodelam a vida moderna, impondo novos desafios éticos, sociais e espirituais. Diante desse cenário, a Igreja de Cristo é chamada a refletir: como usar a tecnologia sem perder a essência do Evangelho?
A história mostra que a tecnologia sempre foi uma aliada na expansão do Reino de Deus. A invenção do papiro e, depois, da imprensa, permitiu a disseminação das Escrituras e da mensagem cristã. O rádio, a televisão e, mais recentemente, a internet, tornaram-se pontes para a evangelização global. Se a Grande Comissão de Jesus “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16.15) - continua sendo a mesma, os instrumentos à disposição da Igreja hoje são incomparavelmente mais poderosos.
Entretanto, todo poder traz consigo uma responsabilidade proporcional. A tecnologia, que é fruto da inteligência dada por Deus ao ser humano, pode ser instrumento de bênção ou de ruína. Em Gênesis 1.26-28, o Criador delega à humanidade o mandato de dominar e cuidar da Terra - não para explorá-la egoisticamente, mas para exercer mordomia e criatividade à semelhança do próprio Deus. Assim, inventar, desenvolver e inovar fazem parte da imago Dei - a imagem divina em nós.
Mas, assim como tudo o que foi afetado pela Queda, a tecnologia também pode ser corrompida. O mesmo gênio humano que cria vacinas e próteses cria armas autônomas e manipula a genética humana sem referência moral. O mesmo algoritmo que conecta famílias separadas pode aprisionar mentes em bolhas de desinformação e idolatria digital. Como advertiu o apóstolo Paulo: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” (1 Coríntios 6.12).
O cristão não pode ser ingênuo diante do fascínio tecnológico. Vivemos a era do transumanismo - um movimento que tenta ultrapassar os limites da condição humana por meio da ciência, sonhando com a imortalidade terrena e a autossuficiência. Essa ideologia nada mais é do que a repetição moderna da voz antiga da serpente no Éden: “Sereis como Deus” (Gênesis 3.5). Quando a criatura tenta substituir o Criador, o resultado é sempre confusão e decadência moral.
A tecnologia, por si só, é neutra. O problema está em como e para quê a utilizamos. O cristão é chamado a discernir os tempos (Mateus 16.3), a testar os espíritos (1 João 4.1) e a não se conformar com este mundo, mas ser transformado pela renovação da mente (Romanos 12.2). Isso significa usar as ferramentas modernas não para exaltar o homem, mas para glorificar a Deus e servir o próximo.
A Igreja, portanto, não deve adotar uma postura extremista diante da tecnologia. O isolamento tecnológico é fuga; o liberalismo tecnológico é imprudência; o controle rígido e cego é legalismo. O caminho cristão é o do discernimento espiritual. É necessário sabedoria, caráter e vigilância para colher os frutos da inovação sem comprometer a pureza do Evangelho.
A missão continua sendo a mesma - anunciar Cristo crucificado, morto e ressuscitado. A diferença é que, agora, as “estradas romanas” do século XXI são digitais. A internet, as redes sociais e até mesmo a inteligência artificial podem e devem ser redimidas como instrumentos de missão. Mas a mensagem nunca deve se moldar ao meio: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Romanos 10.17).
Que a Igreja de nosso tempo seja sábia o suficiente para não demonizar a tecnologia, mas também santa o bastante para não idolatrá-la. Que aprendamos a usá-la como serva, não como senhora. E que, mesmo em meio à revolução digital, nossa bússola continue apontando para o mesmo norte: “Seja o nome do Senhor glorificado em tudo o que fizermos” (1 Coríntios 10.31).







Que clareza e sabedoria a abordagem deste assunto, parabéns Pr. Carlos. Com discernimento e conhecimento podemos usar os recursos tecnológicos do nosso tempo para cumprirmos com melhor eficiência a missão dada a Igreja de anunciar o evangelho em todos os lugares e fazer discípulos.