Autoridade pastoral: O que é isso?
- Edição JA

- 14 de jul.
- 5 min de leitura
A ORIGEM DA AUTORIDADE PASTORAL:
CHAMADO E DESIGNAÇÃO DIVINA
A autoridade pastoral, no contexto bíblico, não é fruto de mérito humano, influência política eclesiástica, ou carisma pessoal. Ela nasce do chamado soberano de Deus. Em Efésios 4.11-12, o apóstolo Paulo afirma com clareza: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.” A função pastoral é uma designação divina. O pastor é dado por Cristo à igreja para cuidar de seu Corpo, o povo redimido.
O modelo de liderança pastoral, portanto, não é o de um chefe que domina, mas o de um servo que conduz com amor. Pedro reforça esse princípio quando escreve aos presbíteros: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; não por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (1 Pedro 5.2-3).
LIDERAR PELO EXEMPLO:
A AUTORIDADE DO CARÁTER E DO SERVIÇO
O exercício da autoridade pastoral repousa sobre o pilar do exemplo. O pastor não impõe respeito - ele o conquista. O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, um jovem pastor, exorta: “Sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza” (1 Timóteo 4.12).
Jesus, o Supremo Pastor, ofereceu o mais nobre paradigma de liderança. Em João 13.1-17, o Filho de Deus, no auge de sua autoridade, ajoelha-se para lavar os pés de seus discípulos. Um gesto desconcertante, que redefine liderança no Reino de Deus: “Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (João 13.14). A autoridade pastoral se manifesta no serviço. Liderar é servir. Ser o primeiro é ser o que mais serve.
AUTORIDADE NÃO É AUTORITARISMO:
A TENTAÇÃO DO ABUSO ESPIRITUAL
Tragicamente, o mau entendimento da autoridade pastoral tem conduzido muitos ministérios à ruína. O que deveria ser um cajado de cuidado e direção tem se transformado, em muitos púlpitos, em um cetro de controle e manipulação. O pastor é tentado a se ver como a “voz de Deus” infalível, acima de críticas e livre de prestação de contas. Quando a autoridade pastoral ultrapassa os limites da Palavra, ela deixa de ser autoridade e torna-se autoritarismo.
Jesus denunciou esse tipo de liderança: “Sabeis que os que são considerados governadores dos povos dominam sobre eles, e os seus maiorais exercem autoridade sobre eles. Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal” (Marcos 10.42-43).
A igreja não é uma empresa, e o pastor não é um executivo. Ele é servo. Líder. Pastor de almas. Quando pastores impõem regras pesadas e personalistas sob o disfarce de “padrão espiritual elevado”, criam um jugo que nem Jesus exigiu dos seus discípulos. Legalismo travestido de zelo é uma forma disfarçada de controle.
A FALÊNCIA DE MINISTÉRIOS:
ÊXODO DOS MEMBROS
O abuso de autoridade pastoral está entre as principais causas do crescimento dos chamados "desigrejados" e da falência de muitas igrejas locais. Pastores sociopatas, narcisistas, dominadores e insensíveis às dores de suas ovelhas causam feridas profundas no Corpo de Cristo. Lideranças sem empatia, que colocam fardos pesados sobre os outros, mas não movem um dedo para aliviá-los (cf. Mateus 23.4), tornam-se agentes de dispersão e não de edificação.
Pior ainda é quando esses líderes se escudam na ideia de que “o modelo deles é Jesus” para justificar sua intransigência. Esquecem-se de que Jesus era sem pecado - nós não somos. Líderes que não reconhecem seus erros, que não pedem perdão, que não se arrependem, estão longe do coração pastoral de Cristo. Arrogância clerical destrói pontes e constrói muros. Já vi pastores dizendo às ovelhas: “Se quiser ficar nesta igreja tem que aprender a fazer o que eu determino”. Ou então, “A porta pela qual você entrou, também serve para saída”.
SUBMISSA À PALAVRA
A autoridade pastoral não é ilimitada. Ela está submissa às Escrituras. Pastores não podem, em nome de sua ordenação, criar regras ou preceitos dizendo que faz isso para que se cumpra a Palavra. A autoridade de um pastor só é legítima quando fundamentada na Bíblia, inspirada pelo Espírito Santo, e praticada com humildade.
O pastorado é um ministério de confiança, prestado à igreja de Cristo com temor e tremor. O escritor de Hebreus adverte: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossas almas como quem deve prestar contas” (Hebreus 13.17). Prestar contas - isso é algo que pastores não podem esquecer. Não são senhores do rebanho. São mordomos. E mordomos fiéis prestam contas ao Dono.
PASTORES, SERVOS DE CRISTO:
PARA O BEM DO REBANHO
A autoridade pastoral bíblica é uma responsabilidade elevada. É dom de Deus, para o bem do povo de Deus. Exercer essa autoridade é liderar com amor, servir com humildade, ensinar com fidelidade e viver com integridade. Não é um trono. É uma cruz.
Os pastores são chamados a serem imitadores de Cristo, e não substitutos d’Ele. Devem ser líderes acessíveis, pastores que cheiram a ovelha, que choram com os que choram, que se alegram com os que se alegram e que jamais se esquecem de que um dia terão que responder ao Supremo Pastor (1 Pedro 5.4).
Que Deus levante uma geração de líderes que entendam o valor e o peso dessa autoridade - não para abusar dela, mas para edificar a Igreja de Cristo, até que Ele venha.
PALAVRA FINAL
Há pastores não têm o dom e exercem o ministério com tirania como caudilhos. Em inúmeras igrejas locais é perceptível este grave problema. Geralmente os pastores ditadores e legalistas não dão oportunidade para pessoas dotadas do dom de ensino e de pastor, com medo de fazerem sombra para ele.
Pastores que agem assim, geralmente são pessoas inseguras, com grande necessidade de autoafirmação. São autoritários e não admitem decisões colegiadas. Agem como Diótrefes (3 João 1.9-11). Pastor ditador estilo Diótrefes arroga para si uma autoridade centralizadora.
As igrejas locais devem seguir a linha neotestamentária de liderança e trabalhar com liderança em colegiado (Atos 14.23; 20.17; 1 Timóteo 4.14; 5.17; Tito 1.5; 1 Pedro 5.1-2; Hebreus 13.17). A liderança colegiada, com múltiplos anciãos (presbíteros) guiando a igreja local, é um padrão recorrente no Novo Testamento. Embora a Bíblia não proíba a liderança individual em todos os casos, a prática de ter vários líderes trabalhando juntos é a mais comum e recomendada nas Escrituras. Essa abordagem visa proteger a igreja de abusos de poder e promover uma liderança mais equilibrada e eficaz.
Mesmo no colegiado de pastores pode haver pastores ditadores porque os demais pastores "auxiliares" não passam de figuras decorativas. Pois quem manda na igreja local é o chamado pastor sênior ou principal. Na prática este pastor principal manda nos demais pastores e no rebanho. A solução é um colegiado de pastores sem que haja um pastor com primazia. Quando isto acontece os demais pastores no mesmo nível de autoridade impem que um deles queira governar a igreja local com mão de ferro.








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