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Contrarrevolucionários de si mesmos

No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano alemão, Martinho Lutero, entrou para a história como um dos maiores revolucionários católicos de todos os tempos. As suas 95 teses, que contestavam o poderio religioso do papa, levaram a muitas mudanças através da Reforma Protestante que provocou a Contrarreforma Católica, uma das maiores contrarrevoluções da história religiosa.

 

Ao longo da história da Igreja muitas outras revoluções levaram ao surgimento de movimentos e denominações. John e Charles Wesley, fazendo surgir o metodismo; William Carey e a revolução missionária, e mesmo as nossas igrejas batistas independentes, regulares e bíblicas, que surgiram da reação ao liberalismo teológico levando a uma contrarrevolução que resultou na criação de variadas escolas teológicas e na formação de muitos movimentos missionários.

 

O mundo contemporâneo é marcado por revoluções e contrarrevoluções e as igrejas não ficam à margem. A dinâmica das mudanças é permanente, e a intensidade é tanta, que nas duas últimas décadas, uma verdadeira revolução tem atingido todas as denominações evangélicas através dos “desigrejados”. Por mais que se estude o fenômeno desse “desigrejamento”, ainda não há uma contrarrevolução adequada.

 

Neste pequeno artigo, quero voltar-me para uma luta interior dentro de cada um de nós que almeja fazer uma revolução. Aquele insistente desejo revolucionário íntimo que pretende fazer mudanças, mas não consegue executar porque há um contrarrevolucionário dentro de nós mesmos que reage de forma inexorável.

 

Um caso recente que exemplifica o que digo, ocorreu com um colega missionário. No meio da pandemia, com um trabalho ainda embrionário, teve que paralisar as atividades, ao sofrer o revés do esvaziamento das reuniões. Entregou o prédio alugado para reunir-se em casa com a família em um formato de culto doméstico. 

 

Quase no final da pandemia, com receio de esfriamento dos quatro filhos, decidiu frequentar os cultos de uma igreja batista que já estava se reunindo. Os cultos eram animados e apesentavam uma dinâmica contemporânea, um tanto diferente do que ele conhecia através da sua igreja enviadora e naquela que ele estava tentando plantar. Passado o período de pandemia, ele resolveu que iniciaria a igreja nos moldes daquela que tanto o havia estimulado.

 

Um ano mais tarde, apesar do seu esforço revolucionário, não havia conseguido efetuar as mudanças necessárias. Por mais que tentasse, nada mudava. Um tanto relutante, e desanimado, decidiu que deixaria o campo missionário. Estava derrotado pelo contrarrevolucionário dentro de si mesmo que boicotava suas ações de modo implacável.

 

Conheço outras histórias que revelam essa batalha íntima. Acredito, mesmo, que poderia ser uma tese para plantadores ou revitalizadores de igrejas na atualidade. O problema é real e a solução está em aberto. O inexorável contrarrevolucionário dentro dos que decidem revolucionar as suas práticas calcificadas está sempre disposto a boicotar tudo que não condiz com a formação arraigada no inconsciente. É aquele conjunto de conhecimento que chamamos de convicção que se transforma em norma de comportamento, mesmo que não passe de práticas ultrapassadas.

 

É importante lembrar que, por definição, revolução é uma transformação radical de determinada estrutura que pode ser política, social, econômica, cultural, tecnológica ou religiosa. A Contrarrevolução, por sua vez, é uma reação em direção oposta que tem por objetivo reagir contra a revolução. É uma reação que pode iniciar como guerrilha e sabotagem, colocando obstáculos nas tarefas importantes que você idealiza e precisa realizar ou na maneira como você se vê e se coloca diante do mundo. Assim, quando você, conscientemente, quer fazer mudanças, começam as reações do contrarrevolucionário que vive lá dentro, quase inconsciente.

 

As formas que moldam o comportamento, resultam da cultura e formação e isso dificulta a mudança da mente e do comportamento. Há todo um processo e muito trabalho para que haja mudança, de dentro para fora, capaz de transformar a visão conceitual fazendo surgir um revolucionário capaz de superar o contrarrevolucionário dentro de cada um.

 

 

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