A Bíblia toda é composta de textos normativos e descritivos. Extrair doutrina (normativo) do que é descritivo (narrativo), é trabalho árduo para o intérprete das Escrituras. O descritivo pode ter ensino normativo de forma indireta que vai exigir a utilização das ferramentas da hermenêutica bíblica.
A narrativa de Lucas no livro de Atos dos Apóstolos, que apresenta uma fotografia das primeiras três décadas da história da Igreja, talvez seja o texto que mais confusão tenha trazido para a Igreja em toda a sua história de dois mil anos.
Atos dos apóstolos é um livro histórico e descritivo. Não é prescritivo, ou normativo. Não há como inferir que as experiências ocorridas neste livro sirvam como padrão para qualquer época da Igreja, ou para os nossos dias. Por exemplo, o recebimento do Espírito Santo após a conversão de Cornélio em Atos 10.44-47. Ali, a experiência de línguas na sua conversão serviu de evidência para os judaizantes, mostrando que os gentios também fariam parte da igreja recebendo o Espírito Santo. Hoje não há mais necessidade desta evidência, pois nas epístolas não encontramos a manifestação das línguas no momento da conversão, ou quando o crente fica cheio do Espírito Santo. Falar em outras línguas não é normativo. Trata-se de um erro dos pentecostais que afirmam que línguas estranhas é a confirmação do batismo do Espírito Santo.
As epístolas, escritas para as igrejas e líderes, também têm narrativas, mas, no geral, os seus textos servem mais de norma, de padrão, ou gabarito para as igrejas desde o primeiro século. São textos que ajudam a determinar que partes da Bíblia são normativas para a Igreja.
Agora, o livro de Atos dos apóstolos, ou Atos do Espírito Santo, é importantes para verificarmos o que acontece quando uma igreja cheia do Espírito Santo está em ação. Mostra, também, a importância do trabalho missionário e o impacto de vidas controladas pelo Espírito Santo no contexto histórico daquela época.
Em nossos dias, quando oramos pedindo a capacitação e o poder do Espírito Santo, o local não treme como em Atos 4.29-30. Hoje o crente cheio do Espírito Santo não tem como expectativa tais experiências de confirmação. Isso não quer dizer, no entanto, que o Deus Soberano não possa manifestar Sua Presença e Poder quando desejar. Há, principalmente nos campos missionários pioneiros, aonde o confronto, a batalha espiritual contra o inimigo é mais intensa, registros de manifestações especiais do Espírito do Senhor e também de milagres. Mas estas manifestações são pontuais, atípicas e continuam sendo apenas descritivas.
Pode-se dizer, também, que em alguns reavivamentos ocorridos na história da Igreja, a ação do Deus Soberano se manifestou de forma miraculosa. Mas, de novo, não se trata de algo normativo. O reavivamento bíblico é diferente da visão pentecostal que confunde a transformação operada pela Palavra de Deus, nos reavivamentos, com as experiências emocionais e os dons de sinais
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Pr. Valter R. Nogueira e Pr. Carlos A. Moraes
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